Era asma

Desde criança aprendeu a viver com bomba como se fosse a simétrica mais acessível para sua experiência de convivência neste espaço mundano que habitava.
Primeiro as bombinhas para assustar os cachorros e as doninhas desavisadas.
Depois bombou na escola, umas três vezes, até terminar o ensino médio, estudar não era sua vibe.
Bombou na juventude ao fazer papel de besta no espelho da academia, animal tal qual, usava anabolizantes. 
Bombou nas redes sociais ao enviar um nudes nada conceitual, por engano, para o grupo de pastores da igreja a qual seus pais pertenciam.
Bombou (proibido para menores) e agora a bomba: Você tem estreitamento dos bronquíolos (pequenos canais de ar dos pulmões que dificulta a passagem do ar provocando contrações ou broncoespasmos. As crises que tem tido comprometem a sua respiração, tornando-a cada vez mais difícil. Cada vez que esses canais inflamam aumenta a produção de muco e, por consequência, o problema se agrava. A sensação de sufoco é inevitável.
Tendo ele morrido ao menos umas três vezes, nas últimas semanas, já que ao viver a crise se esticava no chão afirmando ser um enfarte e, tendo sido apelidado, no pronto atendimento do plano de saúde, como “Tô morrendo me ajuda pelo amor de Deus”, resolveu acatar as sugestões do médico, afinal a vergonha alheia já tinha lhe dado uns tapas na cara.
O médico foi então estabelecendo as regras conforme protocolos da doença, conceituando e delimitando as atitudes daquele momento em diante.
Primeiro falou do cigarro: Não fume! Nem tenha contato com nenhum fumante.
- Como assim, produção? Fumo desde que me entendo por gente. Vou pitar o que chefia?
Fumaças, gases, cheiros de tinta, de produtos de limpeza ou de higiene pessoal e perfumes podem ser prejudiciais aos asmáticos. Fuja deles;
- Helloooo!! Trabalho numa siderurgia e nas horas vagas vendo perfumes importados. Matei meu ganha pão, vou vender minha arte na praia. Partiu Rio das Ostras. Um violão e uma bicicleta. E a companhia do Vander Dunguel.
Mudança abrupta de temperatura nem se decidir morar na geladeira, my darling. Meinha no pé e toquinha na cabeça.
Rir só em câmera lenta ou dando ré, caso contrário, conhecereis o trajeto do inferno em dois tempos: o de ida e o de potencial retorno, com uma quase morte no intervalo.
Pratique yoga para reaprender a respirar. Tipo cachorrinho, tipo gatinho, tipo cordeirinho... 
Correr, pedalar e nadar, sempre. Não nesta ordem. E quando faltar o ar não entre em pânico, conte até 100, sopre um saco de papel de pão, e se nada der certo procure o hospital mais perto e faça um seguro de vida com o corretor quesível ligando em horas inoportunas.
- Mas Dr. , minha vida acabou assim. Não posso fumar, nem beber, nem... Posso saber o que é pior? 
- Não se preocupe, tudo é adaptação, a vida se normaliza, você se acostuma. O único detalhe que esqueci de mencionar é que o plano de saúde não cobre os exames que fizemos hoje e você deve à clínica dois mil e duzentos reais que pode parcelar até de 6 vezes sem juros.
Ele ficou nervoso e começou a tossir, desesperadamente, sem nenhum controle sobre aquela invada alienígena alérgica  decrementada cuja nave espacial eram os brônquios e o ar o dentevperdidonpelo banguela, a ponto de ficar com o rosto arroxeado e feito uma panela de pressão prestes a explodir e o médico de pronto atendimento ofereceu-lhe um nebulímetro. 
- Mas o que é isso, doutor?
- Não se preocupe, de agora em diante a bomba é a sua melhor companhia.
- Bomba não, doutor. Bomba não! A única bomba que me faria bem era uma de gasolina com crédito ilimitado, o resto é intriga da oposição, cafifa, mandinga.



 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 22/04/2019
Reeditado em 22/04/2019
Código do texto: T6630009
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