Tio José e o seu jumento de sela

Quando eu era garotito de doze ou treze anos o tio José me dava o seu jumento de sela para eu montar e andar por toda minha terra, como se aquilo chamasse a atenção de muita gente. O jumento caboclo do tio José era o meu ginete de sela, nele eu andava em quase toda Malhadinha e até nos lugares adjacentes. A tia Ana brigava comigo porque ela tinha muito cuidado com a minha aventura louca em montar num jegue danado como era o jumento caboclo que botava o próprio dono no chão. Meu tio tinha uma tropa de jumentos, no entanto ele só amava o jumento caboclo por ser um asno bom de sela e muito troteiro. Quando o tio José ia dar água aos animais eu tinha de dar uma volta montado em caboclo para o povo de Malhadinha dizer que menino danado é o menino das Augustinho como o povo me chamava. Caboclo para mim era um verdadeiro palafrém um autentico cavalo de sela. Até os meus quinze anos eu gostava de andar em caboclo contudo fui crescendo e fui perdendo o amor pelo meu ginete porque passei a amar os livros e sobretudo a viola. Depois que o meu tio vendeu a sua tropa de jegues não andei mais em animal nenhum e tentei esquecer as minhas aventuras de menino travesso e órfão. Eu queria muito bem ao tio José porque ele me cativava e fazia tudo quanto eu queria sem reclamar como se eu fosse filho dele. Fui um menino pobre, no entanto fui muito mimado pelos meus tios paternos talvez pelo fato de eu ter perdido a minha mãe muito novo. Quando eu avisto um lote de jegues me vem a lembrança do tio José e do seu jumento de sela que nós chamávamos de caboclo. Se eu pudesse voltar aos meus doze anos o meu primeiro encontro seria com o tio José e depois com o seu jumento caboclo, o melhor jegue que Malhadinha já conheceu.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 22/04/2019
Reeditado em 22/04/2019
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