A espera.
A espera me contempla. Ela me olha pelo espelho enquanto eu me sento em sua condição. Pego senha. Pego fila. Pego caminho longo, seja de ônibus, de bike ou até a pé. Espera precede viver. É a ação das coisas. A curva de cada acontecimento.
Espera demanda paciência, é aguardo. É ela que me faz sentir o que há de precioso em mim. Por isso ela me olha e me contempla. Difícil ver alguém com esse apreço.
É em sua companhia que olho para o céu com a devida atenção. Tiro meus eternos cochilos, converso com desconhecidos. Reparo ao redor, o que há de conflito?
É descoberta. Redescoberta. Ouço a voz da minha consciência. Apuro meu estado de espírito. Quando em amargura, retorno a lembranças desagradáveis, até traumáticas, ou a reflexões duras. Em felicidade, há momentos que chego a rir sozinha. Falo alto, penso profundo.
Se não fosse a espera, eu certamente não leria tanto. Eu não me ouviria. Eu nem ao menos conseguiria escrever essa crônica prosaica.
Como a espera antecede o acontecer, ela me encaminha para a sublime forma de existir no meu viver.
20.04.2019