A vida continua
A vida me foi dada, por Deus e por meus pais.
Ainda não sei se a aproveitei ou desperdicei, vivi até agora.
Os irmãos de sangue as vezes são mais desconhecidos do que alguns amigos, mas os amo.
O meu pai foi tirado de mim muito cedo, eu era adolescente, mas o carinho e o amor que ele dedicou a mim ficaram marcados.
A minha mãe, pude conviver mais com ela, aprendi muito e convivemos por muitos anos.
Uma mulher guerreira, dura às vezes, mas se não fosse não conseguiria terminar de criar os filhos menores de idade e formar a família. Esse ano completam três anos que ela nos deixou e foi morar com Deus.
Sinto saudades dela e dos dizeres dela. No final da vida, ela passava os dias nas casas dos filhos. Tornou-se totalmente dependente. E no dia em que ela partiu para sempre estava em minha casa. Eu fui a última pessoa que ela viu antes de desfalecer e não voltou mais. Eu sozinha em casa, a segurei nos braços quando ela passou mal. Ela olhou dentro dos meus olhos, sorriu e fechou os olhos para não mais abrir. Agora, consigo tocar no assunto, mas o coração doeu demais. Ela medicada, com restrições médicas e dieta adequada, estava bem. Naquele fatídico sábado, ela chegou alegre, conversando. Almoçou, lanchou á tarde o mingau que eu fazia para ela e ela gostava. Foi assistir um pouco de televisão, daí a pouco me chamou, eu estava na sala tecendo crochê e ela no quarto. Queria ir ao banheiro, levei-a, quando saiu de lá ela passou mal. Tudo que nós filhos podíamos fazer, fizemos, mas “a hora dela tinha chegado”.
A dor no peito era pesada, chorei algumas vezes, mas a dor foi diminuindo aos poucos. Nunca senti remorso por tê-la prejudicado em nada, somente a ajudei quando precisou de mim. O mesmo não posso dizer de alguns irmãos. Hoje sinto saudades, mas ela estava cansada e sofria com os problemas de saúde, descansou, porque já havia sofrido o bastante.
Estudei, aprendi com “as lições que a vida dá”.
Trabalhei muito, “comecei de baixo”, não alcancei um alto grau na sociedade, mas o que consegui é suficiente para viver.
Construí uma vida, tenho um lar, uma família, meus filhos que amo mais do que a mim.
Amei sinceramente um homem que me traiu, deixei-o.
Poderia tê-lo perdoado, casado com ele, mas eu era muito nova e depois de muitos anos sei que a minha atitude foi acertada.
Apaixonei-me a casei-me anos mais tarde.
Eu gostava dele, não sei se era amor, mas tinha um sentimento bom, atração física, carinho.
Mas ele não era o que eu sempre sonhara.
A vida de casada não foi fácil.
Um homem que bebia muito e diariamente.
Tentei mudá-lo, mas depois descobri por experiência própria que ninguém muda se não quiser.
Eu trabalhava para ter minha renda própria e ainda cuidar da casa, dos filhos e dele.
Esqueci-me de cuidar de mim, por muitos anos.
Foi quando descobri que ele me traía, em época de celular, o ouvi falando amorosamente com uma mulher. Tive que me conter para não deixar transparecer que eu sabia. investiguei e descobri tudo. Através dessa traição descobri que ele me traiu durante todo o casamento.
Depois que eu já sabia, as pessoas contavam como “coisa natural” sobre as aventuras dele e eu nem sabia. Digo aventuras, porque ele ficou com mais de uma e continuou comigo. “Quando falei com ele que eu sabia falou que “negaria até a morte”. Depois a “consciência foi doendo”, cobrando o arrependimento. Ele chorava como criança e me pedia perdão. E eu dizia que quem o perdoaria seria Deus. E eu como mortal e falha também, não consegui esquecer. “A confiança uma vez quebrada é como o cristal que se quebra, nunca mais será o mesmo”.
Os bens materiais vieram por consequência do trabalho e quando eu me for desse mundo ficará tudo para o mundo.
É preciso passar por duras provas para vencermos.
Seja no campo emocional, espiritual, racional e profissional.
E não desisti porque a vida continua.
Foi quando descobri o meu valor e passei a cuidar de mim, da minha saúde, dar presentes a mim, passear, ter momentos de felicidade, sem me preocupar com o que “os outros pensassem ou falassem”.
Sair com meus filhos, sorrir, contar casos, curtir shoppings, “cidade grande”, barulho, risadas com amigos (as), sentar no chão e brincar com meu único neto que vai completar dois anos. Acredite, ele não me chama de vovó, chama-me por apelido. E rimos juntos, corremos um atrás do outro, nos abraçamos, cantamos é uma festa!
E a vida continua nos surpreendendo.
Apresenta-nos os amigos.
Os amigos às vezes nos amam e os amamos mais do que nossos irmãos.
Acontece, encontro de almas.
Às vezes nem eram amigos, eram conhecidos do cotidiano, às vezes, meros colegas de trabalho,
Lágrimas ao luar olhando a lua, olhando a beleza das estrelas cintilando.
A brisa da noite passando por entre os cabelos, esfriando o rosto, a pele.
Encolho na espera de um abraço, sem palavras, somente a presença, o calor do corpo, a respiração suave, um afago nos cabelos.
Em meio a tantos acontecimentos me apaixono por um amigo.
Acontece uma “amizade colorida” e passa, a amizade fica.
Uma amizade que podemos tornar companheiros, confidentes.
Ninguém precisa saber quem é somente nós, basta um olhar nos olhos.
O coração parece não caber no peito devido á emoção.
Tudo junto, atração, paixão, alegria, amor.
Um amigo que não era somente amigo.
Brincadeira do destino.
A gente pensa que ama um homem que é o único e primeiro a amar.
Engano.
E a vida continua.
Até que depois de formar uma família e os filhos saírem de casa a gente se descobre.
Ser feliz de novo enquanto houver vida.
Não exatamente por um homem ou por filhos mas pra gente mesma.