MANHÃ AZUL

Raios de sol perpassando a cortina do meu quarto insinuam que passou da hora de acordar.
Havia prometido a mim mesmo,madrugar neste dia e dando continuidade às tradições herdadas de meu pai,colher ervas de cheiro e marcelas do campo antes do nascer do sol.
Falhei seu Jango ! Porém,chorar sobre o leite derramado de nada adianta,então, tomo o rumo da cozinha para o preparo do café da manhã.
Busco companhia entre os demais aqui de casa e tudo o que ouço é tão somente um ressonar profundo de quem dorme o sono dos (quase) justos.
Abro a janela e o dia lá fora é tão lindo!
O céu tão profundamente azul que com pouco mais de imaginação seria possível ouvir o fuxico as núvens,caso estas ousassem macular a pureza hortenciada da manhã.
A chaleira chiando evoca-me lembranças das manhãs de sextas feiras santas quando o hábito que sempre tive de pedir a benção aos meus pais tinha algo de solene.
A casa incensada ao cheiro das ervas orvalhadas recém colhidas,a mesa posta e a figura saudosa daquele senhor que abençoava-me,desejando que o mundo se derramasse em boas energias sobre mim.
Mãos invisíveis apertam-me a garganta e meus olhos, pensativos,perdem-se janela a fora entre um gole e outro de meu desjejum.
É a lei da vida nos privando de nossas referências.
Decidido,de câmera em punho,saio para minhas andanças.O destino é Engenheiro Gutierrez (Guti) como carinhosamente o denominamos.
Uma linha reta percorrida a aproximadamente quatro Km de onde moro.
Guti consegue a proeza da harmoniosa convivência entre o novo e o bucólico e isso  lhe  faz perfeita.
Penso ser ali onde pisei os sóis de meus melhores dias.Quando em criança,na catequese do Colégio Sagrado Coração. O paparico das freiras ,um piano sempre tocando no salão nobre e um coral de desafinados cantores cantarolando ao redor.Madre Pacidina e seu delicado jeito mineiro de ser nos recebendo com deliciosos docinhos de leite  preparados por suas mãos.O nosso alegre retorno equilibrando-se sobre os trilhos da linha férrea,o susto dos apitos,o misterioso requinte das malas na plataforma de estação de trens,o vento harpejando nos braços franzinos das araucárias dolentes canções do Sul...
Depois,adolescência e juventude compartilhada com amigos que ali viviam.Os primeiros amores (platônicos em sua maioria) e agora este ruminar de ternas lembranças.
O tempo passa,nos rouba a maciez da face,o escancarado robusto dos risos,a energia dos passos,enfim...Mas não consegue a façanha de fazer-nos esquecer o que foi belo,feliz e procriador de ilusões.
Assim,revestido do eterno sonhador que sou,nada mais me resta a  oferecer a  não  ser o  repasse aos amigos de alguns de meus clics nesta manhã de tantas emoções e  lembranças:
Com voces: Minhas  andanças por Guti ! Um  vale  iluminado.