CORRENTES IDEOLÓGICAS, APENAS
 
Nos comentários acalorados, nos dias atuais, nas nossas redes sociais, quando o assunto é “qualificar” aquele político e/ou aquele partido político que é da direita ou que é da esquerda, ou qual é a ideologia de quem é da direita ou de quem é da esquerda, o que mais se vê falar nos comentários pessoais, entre réplicas e tréplicas, são as expressões “comunismo” e “socialismo”, mas essas expressões recebem significados nem sempre muito precisos.

Outros, porém, tentando “desqualificar” e/ou apimentar ainda mais a discussão, fazem questão de incluir a expressão “fascismo” na conversa, ainda que para isso tenham de ressuscitar o Manifesto de Gentile, que leva a marca de Benito Mussolini (ditador italiano), versus o Contra Manifesto escrito por Benito Croce, publicado no Jornal Il Mondo, ainda que este tenha aproveitado a inspiração de Giovanni Amêndola, líder da oposição democrática daquela época, morto mais tarde pelos fascistas
(Trecho adaptado/colhido de O fascismo, os intelectuais e a política cultural, de Angelo d'Orsi).

Oportuno se faz aqui salientar que não sou adepto de nenhuma das duas primeiras correntes ideológicas, muito menos da última mencionada (o fascismo), mas numa explicação bem resumida, num primeiro momento, pode-se dizer que, segundo a Teoria Marxista, o socialismo é uma etapa para se chegar ao comunismo.

O comunismo, por sua vez, seria um sistema de organização da sociedade que substituiria o capitalismo, implicando o desaparecimento das classes sociais e do próprio Estado.

Segundo a historiadora Cristina Meneguello, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no socialismo, a sociedade controlaria a produção e a distribuição dos bens em sistema de igualdade e cooperação. Esse processo culminaria no comunismo, no qual todos os trabalhadores seriam os proprietários de seu trabalho e dos bens de produção. Mas essas duas expressões também podem assumir outros significados.

Logo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), formou-se na Europa, sob liderança da União Soviética, um bloco de nações chamadas de comunistas. “Esses países tornaram-se ditaduras, promovendo perseguições contra dissidentes. A sociedade comunista, justa e harmônica, concebida por Marx, não foi alcançada”, afirma, por fim, Cristina.

Já o historiador Alexandre Hecker, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Assis (SP) afirma que “pode-se entender o socialismo, num sentido mais limitado, significando as correntes de pensamento que se opõem ao comunismo por defenderem a democracia. Em contraposição, o comunismo serviria de modelo para a construção de regimes autoritários”.

Como se pode observar, os especialistas são quase unânimes em afirmar que nunca houve um país comunista de fato. Alguns estudiosos vão mais longe e questionam até mesmo a existência de nações socialistas.

O sociólogo Marcelo Ridenti (Unicamp), por sua vez, diz que “os países ditos comunistas, como Cuba e China, são assim chamados por se inspirarem nas ideias marxistas. Contudo, para os críticos de esquerda, esses países sequer poderiam ser chamados de socialistas, por terem Estados fortes, nos quais uma burocracia ligada a um partido único exerce o poder em nome dos trabalhadores”.

O sociólogo, historiador e economista alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi o principal pensador do marxismo, movimento filosófico e político nomeado em sua homenagem. Junto com Friedrich Engels (1820-1895), Marx detalhou sua teoria política e previu o colapso do sistema capitalista (baseado na propriedade privada) em três obras principais, a saber:

Manifesto Comunista: Escrito entre 1847 e 1848, esse famoso manifesto defendia a ideia de que a história de todas as sociedades existentes até então era a história da luta entre as diferentes classes sociais;

Esboços da Crítica da Economia Política: Manuscrito preparado por Marx e Engels, entre 1857 e 1858, que discutia questões como a propriedade agrária e o mercado mundial; e

O Capital: No primeiro volume, lançado em 1867, Marx e Engels analisavam o modo capitalista de produção. Marx trabalharia até morrer nos dois volumes seguintes, mas eles só seriam publicados por Engels em 1885 e 1894.

Entendo que essas discussões, despejadas pelos contendores frequentadores da mídia virtual, não nos levará a um caminho esclarecedor daquilo que se passa nos meandros da nossa política partidária, muito menos elas possam servir para justificar essa ou aquela atitude político partidária, ou o modo de agir de seus integrantes ao longo dos tempos.

Entendo, ainda, que o Brasil que habitamos, desde o momento em que lusos se apossaram dele, é o país de todas as cores e, nós brasileiros, tanto os da direita, quanto os da esquerda, ou de outras posições partidárias intermediárias, continuamos viajando no mesmo barco, esperançosos e extremamente precavidos
 para não ficarmos à deriva em algum momento dessa viagem.