O DIA EM QUE VOLTEI A ESCREVER

É impossível precisar o dia que tomei o gosto pela escrita. Talvez tenha sido após alguma redação sobre as férias no Ensino Fundamental ou um trabalho de Literatura no Ensino Médio. Na verdade, isso pouco importa. O que interessa saber é que a escrita sempre fez parte da minha vida, assim como a leitura incentivada desde os mais tenros anos pelo meu pai, que me trazia gibis e livros usados semanalmente. Esta, com certeza, foi a maior herança que ele me deixou.

Dos textos adolescentes em agendas e diários (nada que começasse com "Querido, diário", posso garantir!) para os inúmeros blogs que já tive foi uma questão de evolução tecnológica. Neles, criei uma rede de amizades - algumas das quais tenho até hoje - com aspirantes a escritores e cabeças tão cheia de pensamentos que não podiam deixar de compartilhá-los com o mundo.

No entanto, a mesma tecnologia que te "cria" pode ser aquela que te destrói. Com o advento das redes sociais, tornou-se cada mais irrelevante redigir um texto com quatro, cinco parágrafos. Quem teria tempo para lê-los? Quem teria tempo para escrevê-los? O pensamento passou a ser resumido em 140 caracteres; em sua maioria, recheados de críticas e ódio gratuito. Como resumiu Umberto Eco, foi dado o "direito à palavra a uma legião de imbecis", da qual também fiz parte por um tempo.

Mas isto nunca foi o tipo de escrita que satisfazia meus impulsos literários. Era apenas um paliativo, uma forma de não me afastar totalmente das palavras. Funcionou por um tempo, mas já não fazia mais efeito. Era hora de voltar ao real prazer proporcionado pelo brotar do texto, o despejar das ideias em eterna ebulição na cabeça e o crivo da opinião alheia.

Sim, voltei. Mais maduro, mais filosófico, quase politizado, com menos tempo e sem a menor intenção de agradar. Quero apenas ser honesto comigo mesmo e novamente desfrutar do prazer que o ato me proporciona. Almejo nada mais que o gozo literário.