Amor de menino
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o bêabá
Ataulfo Alves
1. Quando eu cursava o Primário, no século passado, eu menino, uma de minhas professorinhas foi o meu primeiro amor fora de casa. Sua graça? Maria da Glória.
2. Até conhecer Glorinha, amor de verdade, eu só tivera por meus pais, Raul e Luiza. Era, claro, um amor diferente, incondicional, inegociável, sem limites. Acompanhei Glória, à distancia, durante um bom tempo.
3. Maria da Glória era baixinha e cheinha. Não era magra, nem era gorda; nem feia, nem bonita. Mas tinha um sorriso embriagador; era simpática e cativante. Durante o período de aulas, ela vestia blusa branca e saia godê, azul. No seu tempo, as mulheres ainda não usavam "calça de homem".
4. Até onde era possível vê-los, meus olhos infantis, porém, ousados, alcançavam e admiravam os seios, túrgidos e suplicantes, da Glorinha. Suas pernas eram finas; parecidas com os cambitos das seriemas que corriam alegres pelo sertão nordestino.
5. Glorinha, com seus vinte e oito anos, era solteira. Num tempo em que as mulheres casavam cedo. Me disse minha mãe, que Santo Antônio brigara com ela, segundo rumores que corriam pela cidade.
6. Verdadeiro ou não, o fato é que, por mais que pedisse ao santo casamenteiro um bom matrimônio, ninguém aparecia para, ao som da Marcha Nupcial de Mendelssonhn, como ela queria, levá-la ao altar e de véu e grinalda.
7. Tomei-me de tanto amor por Maria da Glória que, elogiando seus sublime busto, admirado (ou também cobiçado) até pelo padre vigário, rabisquei o que na época chamei de minha primeira crônica.
8 A morte. Glorinha morreu no final do século passado, no mês de maio. Soube de sua morte por um amigo daqueles tempos de escola. Chegara aos noventa e pouco anos de idade, morando numa casa de repouso.
9. O mal de Alzheimer a tirou de circulação, quando ela começava a se despedir do mundo, ouvi de um dos seus ex-alunos que aproveitou para lembrar quão lúcida e diligente "era a nossa professorinha".
10. Relembranças! Vivo, no momento, uma noite de profunda nostalgia, em plena Semana Santa. Chove lá fora! Venta lá fora! Os carros derrapam no asfalto molhado e os faróis de minha rua estão todos apagados! Não tem gente andando na rua.
11. Nostálgico, e depois de ouvir , pelo Spotify, "Meus tempos de criança" de Ataulfo Alves, me deu vontade de falar de Glorinha, minha primeira "fessora", meu primeiro amor.
E logo me veio aquela pergunta: Alguém ainda se lembra dela? Para quem interessar, ela descansa no chão quente do São João Batista, em Fortaleza.
12. Glorinha morreu sem saber que este escriba, quando criança, nutriu por ela uma louca e silenciosa paixão. Sempre de olho, abelhudo que sempre foi, nos seios fartos e divinos de sua professorinha, que aqui os recorda, com água na boca, apesar de seu cabelos grisalhos...
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o bêabá
Ataulfo Alves
1. Quando eu cursava o Primário, no século passado, eu menino, uma de minhas professorinhas foi o meu primeiro amor fora de casa. Sua graça? Maria da Glória.
2. Até conhecer Glorinha, amor de verdade, eu só tivera por meus pais, Raul e Luiza. Era, claro, um amor diferente, incondicional, inegociável, sem limites. Acompanhei Glória, à distancia, durante um bom tempo.
3. Maria da Glória era baixinha e cheinha. Não era magra, nem era gorda; nem feia, nem bonita. Mas tinha um sorriso embriagador; era simpática e cativante. Durante o período de aulas, ela vestia blusa branca e saia godê, azul. No seu tempo, as mulheres ainda não usavam "calça de homem".
4. Até onde era possível vê-los, meus olhos infantis, porém, ousados, alcançavam e admiravam os seios, túrgidos e suplicantes, da Glorinha. Suas pernas eram finas; parecidas com os cambitos das seriemas que corriam alegres pelo sertão nordestino.
5. Glorinha, com seus vinte e oito anos, era solteira. Num tempo em que as mulheres casavam cedo. Me disse minha mãe, que Santo Antônio brigara com ela, segundo rumores que corriam pela cidade.
6. Verdadeiro ou não, o fato é que, por mais que pedisse ao santo casamenteiro um bom matrimônio, ninguém aparecia para, ao som da Marcha Nupcial de Mendelssonhn, como ela queria, levá-la ao altar e de véu e grinalda.
7. Tomei-me de tanto amor por Maria da Glória que, elogiando seus sublime busto, admirado (ou também cobiçado) até pelo padre vigário, rabisquei o que na época chamei de minha primeira crônica.
8 A morte. Glorinha morreu no final do século passado, no mês de maio. Soube de sua morte por um amigo daqueles tempos de escola. Chegara aos noventa e pouco anos de idade, morando numa casa de repouso.
9. O mal de Alzheimer a tirou de circulação, quando ela começava a se despedir do mundo, ouvi de um dos seus ex-alunos que aproveitou para lembrar quão lúcida e diligente "era a nossa professorinha".
10. Relembranças! Vivo, no momento, uma noite de profunda nostalgia, em plena Semana Santa. Chove lá fora! Venta lá fora! Os carros derrapam no asfalto molhado e os faróis de minha rua estão todos apagados! Não tem gente andando na rua.
11. Nostálgico, e depois de ouvir , pelo Spotify, "Meus tempos de criança" de Ataulfo Alves, me deu vontade de falar de Glorinha, minha primeira "fessora", meu primeiro amor.
E logo me veio aquela pergunta: Alguém ainda se lembra dela? Para quem interessar, ela descansa no chão quente do São João Batista, em Fortaleza.
12. Glorinha morreu sem saber que este escriba, quando criança, nutriu por ela uma louca e silenciosa paixão. Sempre de olho, abelhudo que sempre foi, nos seios fartos e divinos de sua professorinha, que aqui os recorda, com água na boca, apesar de seu cabelos grisalhos...