Que Bons Tempos Foram Aqueles...

Ainda hoje nos raros momentos desta minha atribulada vida em que tenho a felicidade de me sentir como se estivesse no oásis da paz de espírito, com muita lucidez e ainda sem ter sofrido os naturais efeitos da reminiscência, me vem à mente aqueles bons tempos por mim vividos na minha infância quando, sempre no período das férias escolares o meu saudoso pai que era funcionário público, costumava tirar suas férias também nesse mesmo período, para que assim toda a nossa família também pudesse aproveitar as férias.

O mais interessante é que o nosso passeio de férias tinha quase sempre apenas dois destinos: Aparecida do Norte; ou um sítio da família, que fica no interior do Estado e que é onde moravam os meus avos paternos.

A gente até que gostava muito de ir à Aparecida do Norte, principalmente por causa do 'trem de aço', que era um luxo só... Mas na verdade era para o sítio ‘dos nossos avós’ que a gente mais gostava de ir e que, pelo menos para nós crianças, era o melhor lugar do mundo.

Era um sítio enorme, cheio de árvores frutíferas. Tinha também uma grande horta com tanto tipo de verduras que a gente nem sabia o nome. Aquela horta era o orgulho da minha vó, ficava na parte baixa do terreno, chamada 'vargem', onde passa um pequeno córrego que corta todo o terreno, passa pertinho da casa e vai desembocar no Rio Paraíba. Existe também um bananal que vai desde a margem desse pequeno córrego até o início de uma pequena montanha, onde existe um canavial que cobre grande parte dela, terminando bem lá no alto, próximo de algumas gigantescas árvores que delimitam o terreno.

Esse pedacinho do paraíso fica localizado do lado direito de uma estrada de terra batida, que liga o Município de Barra do Piraí ao de Vassouras, sendo que do lado oposto desta estrada passa a ferrovia que vai acompanhando todo percurso do Rio Paraíba do Sul.

Aliás, atravessar aquele rio era para nós sempre uma grande aventura, pois a travessia era feita em uma pequena canoa. A gente adorava quando íamos visitar uma tia que tinha uma fazendola do outro lado do rio., isso porque a gente já sabia o que nos esperava lá; eram passeios de carro de boi, tirar leite das vacas no curral, comer queijo assado na brasa, andar a cavalo, pegar camarão com as mãos no ribeirão... Era uma verdadeira loucura quando a gente chegava lá...

O meu avô não gostava muito de conversar com crianças. Ele ficava furioso se as crianças ficassem 'ouvindo as conversas dos mais velhos’... Já a minha vó. Ah, minha saudosa vó...

Minha vó era uma exímia contadora de histórias. Parecia até que tinha um arquivo cheio delas em sua memória. É verdade que às vezes ela até que repetia algumas para nós. Mas a gente nunca reclamava, porque cada vez que ela recontava uma de suas histórias, ela sempre colocava mais algum detalhe muito interessante. E se, por acaso, a gente dissesse que ela já tinha contado aquela história, ela simplesmente dizia; “Ora, por acaso vocês não estão vendo que eu já estou ficando bem velhinha? E vocês sabem muito bem que todo velho tem memória fraca...”

Uma das histórias que a gente mais gostava era; “A história do Caboclo D’Água”. E ela 'jurava de pés juntos' que aquela era uma história verídica, que tinha acontecido com o povo dela -ela era índia- e a gente realmente acreditava...

Que bons tempos foram aqueles!