Notre-Dame, la nôtre...
Lágrimas de tristeza ao verem, daqui da Paraíba, no além mar, um dos nossos templos da cultura e da fé em chamas; o fogo queimando o teto dos corredores escuros, por onde caminhei, transportado à meditação por aquela excepcional sagrada ambiência; pisando o mesmo chão de pegadas seculares e de vultos históricos. Lá estava, ora por telefone, ora por televisão, a catedral vazia, mas cheia de santas e de santos, de espíritos crentes e descrentes torcendo que aquele abrigo de esperanças não desabasse. Foi quando pensei que também meu espírito, veloz mais do que a luz, voltasse à Paris a levar minhas gotas d’água para apagarem o incêndio. Teria ele já queimado as rústicas e monásticas madeiras ou os belos e esplendorosos vitrais? A obra de Victor Hugo, O Corcunda de Notre-Dame, é um hino à antiga catedral. Com certeza lá estaria o Corcunda se protegendo, e a ajudar os bombeiros contra aquele fogo infernal da “divina comédia”, aos poucos, transformando tal paraíso num ardente inferno de Dante.
Pensei também que dizem ser o fogo luz; como o da fé nas velas do batismo; o da gratidão nas promessas dos agraciados; o da alegria no Ciro Pascoal, onde se escrevem alfa e ômega, e, entre estas primeira e última letras do alfabeto grego, a anunciada Boa Nova: Cristo Ressuscitou! Ou seria Ele o fogo ressuscitado expulsando os “vendilhões do templo”? Quando morei em Paris, vi camelôs vendendo droga, “souvenirs” profanos, figurinhas e filmes pornográficos por ali; havia de tudo à venda no limiar dos esculturados portais daquele santo lugar. Poderiam ser as chamas labaredas chicotes para expurgar o recinto à Semana Santa? Quanto mais se acendia o imaginário, mais a realidade queimava a casa sagrada, seu teto, suas torres sobre o grito lamurioso dos que estavam a observá-la, da margem do Sena. E as notícias explicavam que apenas se tratava de um acidental desastre.
A obra de Victor Hugo, o Corcunda de Notre-Dame é um louvor à antiga catedral. Muitos desses lugares de oração cresceram nas suas denominações: de capela à igreja; de igreja à matriz; de matriz à catedral; de catedral à basílica. Mas, a Notre-Dame, por si e por força da História, sempre se chamou de catedral; catedral desse binômio querido, orgulho da terra francesa. Victor Hugo, em Notre Dame de Paris – 1482, publicado por Ernest Flamarion Éditeur, universaliza essa admiração com imagens poéticas - traduzo: (...) “E a catedral não era apenas a sociedade, mas também o universo, mas ainda assim toda a natureza. Ele não estava sonhando outros “espaliers” como vitrais ainda em flor, outra sombra do que a pedra de folhas que florescem no comando de aves no tufo de capitais saxões, outras montanhas que as torres colossais a igreja, de outro oceano que Paris, que sussurrava a seus pés.” Quando desejo subir as estreitas escadas do campanário, revejo, pela enésima vez, O Corcunda de Notre Dame, sigo os passos de Quasimodo, vejo com os seus olhos a beleza de cada ângulo, de todos os cantos do seu habitat e a delicadeza transformadora da bela e sensual Esmeralda. Mas, detenho-me também na magnitude da catedral, pontificando o arrondissement onde se originou a Sorbonne, e que, amada pelo ocidente e pelo oriente, preservou-se do fogo que, não sei porque, tentou destruí-la, numa fogueira cruel. Depois de algumas queimaduras de alto grau, ela ressurge viva, em pé, altiva como os mártires da Inquisição, a se recuperar, no seu estilo gótico flamejante: arquitetura que aponta para os céus.
Lágrimas de tristeza ao verem, daqui da Paraíba, no além mar, um dos nossos templos da cultura e da fé em chamas; o fogo queimando o teto dos corredores escuros, por onde caminhei, transportado à meditação por aquela excepcional sagrada ambiência; pisando o mesmo chão de pegadas seculares e de vultos históricos. Lá estava, ora por telefone, ora por televisão, a catedral vazia, mas cheia de santas e de santos, de espíritos crentes e descrentes torcendo que aquele abrigo de esperanças não desabasse. Foi quando pensei que também meu espírito, veloz mais do que a luz, voltasse à Paris a levar minhas gotas d’água para apagarem o incêndio. Teria ele já queimado as rústicas e monásticas madeiras ou os belos e esplendorosos vitrais? A obra de Victor Hugo, O Corcunda de Notre-Dame, é um hino à antiga catedral. Com certeza lá estaria o Corcunda se protegendo, e a ajudar os bombeiros contra aquele fogo infernal da “divina comédia”, aos poucos, transformando tal paraíso num ardente inferno de Dante.
Pensei também que dizem ser o fogo luz; como o da fé nas velas do batismo; o da gratidão nas promessas dos agraciados; o da alegria no Ciro Pascoal, onde se escrevem alfa e ômega, e, entre estas primeira e última letras do alfabeto grego, a anunciada Boa Nova: Cristo Ressuscitou! Ou seria Ele o fogo ressuscitado expulsando os “vendilhões do templo”? Quando morei em Paris, vi camelôs vendendo droga, “souvenirs” profanos, figurinhas e filmes pornográficos por ali; havia de tudo à venda no limiar dos esculturados portais daquele santo lugar. Poderiam ser as chamas labaredas chicotes para expurgar o recinto à Semana Santa? Quanto mais se acendia o imaginário, mais a realidade queimava a casa sagrada, seu teto, suas torres sobre o grito lamurioso dos que estavam a observá-la, da margem do Sena. E as notícias explicavam que apenas se tratava de um acidental desastre.
A obra de Victor Hugo, o Corcunda de Notre-Dame é um louvor à antiga catedral. Muitos desses lugares de oração cresceram nas suas denominações: de capela à igreja; de igreja à matriz; de matriz à catedral; de catedral à basílica. Mas, a Notre-Dame, por si e por força da História, sempre se chamou de catedral; catedral desse binômio querido, orgulho da terra francesa. Victor Hugo, em Notre Dame de Paris – 1482, publicado por Ernest Flamarion Éditeur, universaliza essa admiração com imagens poéticas - traduzo: (...) “E a catedral não era apenas a sociedade, mas também o universo, mas ainda assim toda a natureza. Ele não estava sonhando outros “espaliers” como vitrais ainda em flor, outra sombra do que a pedra de folhas que florescem no comando de aves no tufo de capitais saxões, outras montanhas que as torres colossais a igreja, de outro oceano que Paris, que sussurrava a seus pés.” Quando desejo subir as estreitas escadas do campanário, revejo, pela enésima vez, O Corcunda de Notre Dame, sigo os passos de Quasimodo, vejo com os seus olhos a beleza de cada ângulo, de todos os cantos do seu habitat e a delicadeza transformadora da bela e sensual Esmeralda. Mas, detenho-me também na magnitude da catedral, pontificando o arrondissement onde se originou a Sorbonne, e que, amada pelo ocidente e pelo oriente, preservou-se do fogo que, não sei porque, tentou destruí-la, numa fogueira cruel. Depois de algumas queimaduras de alto grau, ela ressurge viva, em pé, altiva como os mártires da Inquisição, a se recuperar, no seu estilo gótico flamejante: arquitetura que aponta para os céus.