A tia Marica e suas histórias
A tia Marica me contava muita história interessante sobre Antonio Silvino, sobre Jesuíno Brilhante e sobretudo o famoso Lampião, o maior cangaceiro do nordeste. Muitas vezes eu me perguntava como era que a tia Marica sabia tanta história fantástica para nos contar e alegrar o nosso ambiente triste. Eu ficava abismado com a maneira fácil que ela tinha de explicar realmente o que lia e depois passar para gente compreender o assunto e até decorar. A titia lia de tudo e sabia como ninguém interpretar o texto por mais difícil que fosse. Aos seis anos eu já ouvia falar em Virgulino em Cabeleira em Sinhô Pereira e muitos outros cangaceiros do Pajeú. A nossa tia tinha uma memória fabulosa e um jeito próprio de explicar o que tinha lido um dia antes. Quando ela estava cansada de falar em histórias de bandidos mudava o tom da conversa e falava dos personagens dos mais fantásticos romances como se ela fosse uma crítica de arte literária. Foi com essa tia genial que tomei conhecimento da literatura e me apaixonei pela mesma até hoje. Parece-me estar vendo a tia Marica a ler a Última Corrida de Touro em Salvaterra, conto autêntico de Luis Augusto Rebelo da Silva, grande escritor lusitano. Tia Marica foi minha mentora intelectual porque me levou para os livros fazendo com que eu passasse a amar a literatura, arte que faz parte da minha pobre existência. A literatura é para mim o meu único suporte e a vejo como o meu Deus que me guia nesta vida sobre tudo.