Fazer terapia

Eu nunca imaginei que um dia faria terapia. Não sei como é quem lê este texto agora, mas dado ao público para quem eu divulgo (de forma especial Twitter), é difícil que você não seja alguém que já tenha passado por isso ou então atue na área da saúde. Tenho escrito sobre temas ligados ao meu convívio com um transtorno mental e por isso é natural que o público seja específico. Não vou falar sobre isto num fórum sobre as finais dos campeonatos regionais.

Eu iniciei na terapia (psicoterapia, vamos combinar) já com uma caminhada de utilização de medicamentos antidepressivos. Fiz um caminho inverso do que depois verificaria em conhecidos. Já busquei ajuda medicamentosa devido às dificuldades de sono e por uma tristeza profunda. A terapia entrou na jogada para auxiliar o processo, e eu também possuía uma intenção de abandonar os remédios, levando a conta para o lado emocional e afetivo. E este primeiro encontro com a terapia foi muito tranquilo. Não havia nenhuma aura de mistério rodeando o lugar, somente uma certa desconfiança das confidencialidades. Havia em mim ainda uma certa preocupação sobre se as paredes possuíam ouvidos, ou mesmo que o profissional pudesse comentar algo em casa. Moro em cidade pequena, então imaginava tudo.

Depois desta experiência com a primeira terapeuta eu fiz uma mudança de profissional. Desta vez uma médica-psicoterapeuta. Foi uma experiência mais intensa, parece que os conteúdos foram revirados de forma mais feroz e por coincidência estes foram os anos mais difíceis. Não imaginaria eu que também aprenderia tanto. Notei várias coisas em meu comportamento e forma de ver a vida que perduraram ainda anos, e até hoje preciso trabalhar de forma a me fazer alguém melhor. Notei um certo orgulho em mim, que se expressava num respeito excessivo pelo terapeuta, quando ele demonstrava um nivel intelectual superior. Uma mistura de admiração e inveja. O que aprendi? aprendi que as pessoas mais simples também estão com a verdade, e que a humildade é luz da sabedoria, do conhecimento. Pouco importa o muito saber se não é a humildade quem a sustenta. Ainda tenho trabalhado isso em mim.

Também notei o quanto tenho dificuldade para reconhecer determinadas fraquezas e situações. Então de que adianta pagar um valor a um profissional e não se abrir? Aprendi que a terapia não é um homem que vai adivinhar e ler sua mente, mas um processo em que ambos constroem um aprendizado e uma cura, baseado na reciprocidade, porém com um peso muito maior para aquele que está sendo cuidado, tratado, pois é ele quem precisa se abrir, lançar para fora a água turbulenta e suja, para que o profissional utilize as ferramentas corretas a permitir que esta sujeira desça ao fundo, tornando a água menos suja. Por conta desta dificuldade abandonei a terapia por um período.

Também aprendi um pouco sobre as limitações da terapia. A minha impressão é a de que a terapia é sim necessária, e deveria ser buscada por todos, mesmo que para um processo de auto-conhecimento e valorização do potencial. Mas eu percebi na terapia medicamentosa um grande aliado para o seguimento da caminhada, e para a estabilização. Sem ela eu também não conseguiria ter tido avanços ou evitado tragédias.

Infelizmente ainda existem preconceitos em nossas famílias e demais círculos de convívio quando o tema é terapia. Procurar um psicólogo, ou dizer que frequenta um é constrangedor, e são poucos os que acolhem esta informação em uma conversa. Aprendi a silenciar sobre isso, apesar de me surpreender com a opinião de pessoas aparentemente esclarecidas, sobre a validade de um processo psicoterapêutico.

Mas tudo bem, o importante é que estou cuidando de mim e eu serei o principal beneficiado.