Tal hora

Anfiteatro, 18h40, livro aberto.

Ao redor, ainda vazio, enquanto pessoas ainda estão a chegar. O som já toca o reggae.

Encontro-me atento na leitura. Do outro lado da cidade, local da tal crônica, o personagem está a fumar seu cigarro nas ruas do centro de Fortaleza, pessoas se aproximam para pedir um trago ou mesmo um dos cigarros.

Entretido, o som do reggae fica como pano de fundo. Ouve os passos, chinelas se arrastam no chão. O local está a lotar, o anfiteatro, em seu formato oco, começa a ser ocupado.

Em poucos minutos chega uma pessoa, o Pirata, o irmão que conheci de longas datas que sempre se encontrava em meio aos reggaes da cidade, senta ao meu lado e começa a tentar puxar um papo. Apenas o aperto a mão, pergunto se está tudo bem e me volto para a leitura atual. Do outro lado da cidade o ser se encontra conversando com um futuro patrão, que tinha entregue um celular sem número para ele, apenas o avisando que teria que atender quando o ligassem, ele ficou sem entender nada. Fechei o livro por um minuto para olhar o espaço e rapidamente fui interrompido de contemplar. Esse pedia a bike emprestada para ir em algum lugar. Acenei sinalizando que poderia pegá-la. A pessoa gritou afirmando que voltava em dez minutos.

Enquanto isso, escutava o Pirata falar, apenas concordava, mesmo sem entender ou mesmo sem dar a mínima pro papo. “Tem uma seda ai?”, dizia o Pirata. Fiquei ali, com o livro na mão contemplando as pessoas chegarem, sentindo a vibração que o ritmo o trazia, já na mente os leves passos roots… Um dois, um dois… Levantei, abri a mochila, peguei a garrafa e beberiquei a água, fiquei ali contemplando.

Saí rapidamente do mesmo espaço, comprei algo pra comer, voltei ao mesmo local e comecei a mastigar e a observar. Minutos depois lembrei da bike, já fazia um tempo que ela estava a rodar por ali. Parei de pensar e voltei a ler. Tentava tirar da mente qualquer coisa que lembrasse a bike. O personagem, no livro, do outro lado da cidade, estava a murmurar sobre algo, e este algo era sobre um amigo de tempo de escola que ele o declarava como o seu atual inimigo, e assim ficou, saindo, perambulando na cidade.

Fechei o livro, observando o anfiteatro lotado de pessoas. 20h40 saí, andei, pedalei, indo a qualquer destino. A cabeça, inquieta não pensava mais nada. Tal hora no anfiteatro, tal hora do outro lado da cidade.

Eu o Leo Silva
Enviado por Eu o Leo Silva em 15/04/2019
Código do texto: T6624104
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.