COMERCINHENSES
É desaforo de menino irrequieto, que vive a costurar pelas pétalas da poesia uma colcha de retalhos, escrever e sonhar com sua gente.
Minha terra não têm palmeiras porém, são muitas sabiás que a beira do Itaúnas dançam os rituais profanos de acasalamento. Minha terra não é povoada como o Rio de Janeiro e nem platinada como São Paulo ou rica como Brasília. Mas o pito de seus habitantes adoçam o paladar como cristais de gelo a derreter na língua e os burburinhos nas calçadas mequetrefes convidam a café novo e a caçoar do burro empacado no pasto.
As possessões e sesmarias acabam jamais. Possessões de campistas, pajeús, casinhas perdidas nos morros de muita solidão. Solidão seria o sobrenome, por acaso, se Mucurici fosse gente.
Solidão é o som de viola que tilinta nos escombros da antiga Casa de Verdeval Ferreira. Solidão é o fantasma que assombra as reinarias do Finado Dega, solidão é o relicário das lembranças da Vendinha de Agenor. Pudera, desde lá e é por lá, que a solidão primária chamou-se "Comercinho".
A Torre de Fátima convida às hóstias e ladainhas. Torre velha, torre benzedeira, manjedoura dos frutos de ventres abertos no Hospital São João Baptista. Os coqueiros-imperiais da Pracinha São Sebastião rememoram os finitos pensamentos de sertanejos que esperam, por longos meses, a derradeira da chuva, no bico dos pardais-profetas.
Chia uma coruja, acima do Supermercado da Cidade, outrora Mercearia da Família Quartezani, importante providência de toda a gente. A Coruja, por longas noites, pede que olhemos para o passado e beijemos as memórias dos que repousam debaixo das catacumbas do Cemitério Municipal.
Meu povo e meu poema já não são mais os mesmos. E eu, por certo, não pude superar as novidades de minha gente. O Tejo passou sobre o Rio que corre pela minha aldeia. Perdi os ombros marginais e melancólicos de Fernando Pessoa. Porteiras abertas!
Romãozinho arrumou suas traças e partira para Sete Lagoas, partira o saci-roliço ao Pantanal e o Diabo que pisou fundo na Presidente Kennedy apronta nos rincões das Ilhas dos Marajós. Eu também peguei translado e hoje afogo-me no azul da Praia de Itaparica. Todavia, enquanto viver, no meu coração, a minha gente e os meus mortos haverão de pulsar.