Sobre o fim

É uma pena a gente desistir do amor porque alguém não soube nos amar. É uma pena não acreditar que ainda existem pessoas legais; é uma pena a gente fechar as portas e trancar as janelas para que ninguém mais entre, é triste saber que o amor que doamos não foi suficiente, ele não foi capaz de fazer aquela pessoa ficar. Perdemos o chão e a capacidade de processar as pequenas rejeições de cada dia, nossos ouvidos não mais ouvem os amigos, nossos olhos não mais enxergam a verdade, nossa boca insiste em pronunciar o nome da pessoa amada com o tom aveludado. Duvidamos do óbvio porque a paixão nos deixa literalmente demente, e não há quem nos faça mudar de ideia, porque distorcemos a verdade e a ilusão nos parece mais confortável. E finalmente quando batemos com a cara no chão a sensação de não conseguir controlar a própria vida é nítida, depois de perder o senso, a alegria e a inocência nos deparamos com o monstro da rejeição. Sim, o fim é doloroso, no entanto ele não dura para sempre, embora pareça. Chegamos a pensar que o mundo desabou sobre nossas cabeças, que os dias não serão mais ensolarados, ficaremos dois ou três dias sem querer sair de casa, vamos chorar com o rosto colado no travesseiro, vamos ouvir músicas tristes e achar que foram feitas pra gente. A paixão tem a capacidade de nos transformar, de nos despedaçar e de nos restaurar. Para ser bem sincera, você não vai esquecer alguém ficando com outra pessoa, você vai tentar evitar os locais que vocês sempre frequentavam, vai evitar músicas, perfumes, livros, viagens, Facebook, amigos em comum, enfim você vai evitar tudo que te faça lembrar dela, porque sabe que ela está bem melhor sem você, a gente sempre acha que vai morrer quando sem querer encontra a pessoa e olha pra ela com o olhar carregado de melancolia enquanto ela sorri espontaneamente com um sorriso carregado de alegria. A gente não entende, mas o fim sempre quer nos dizer algo e geralmente entendemos depois, bem depois. Queremos a pessoa por perto, mesmo que ela tenha perdido a alegria no abraço, mesmo quando os olhos já não sorriem mais , porque pensamos que o ‘amor’ pode transformar tudo, só nos esquecemos que a nossa vontade nem sempre é a vontade do outro... E a dor do fim um dia chega ao fim e aprendemos que a dor nos fortalece quando entendemos que a liberdade do outro só dói quando perdemos a nossa.

Alice Lourenço
Enviado por Alice Lourenço em 15/04/2019
Código do texto: T6623802
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