EXEGESE

O meu coração está despretensioso, levemente amordaçado. O meu eu é solitário, por vezes se encontra amargurado. Em realidade, o curso da existência é um nuance permanente, repleto de exigências injustas.

Certo dia li uma frase em que dizia: "A cura não é linear". É um fato, a linearidade se faz ausente em um processo como esse. No entanto, o que me amedronta é a dúvida de saber se realmente estou me dirigindo para a libertação.

As piores prisões são aquelas criadas e fortalecidas dentro de uma mente que implora, grita por um socorro que não vem, que nem mesmo é ouvido. Contrariamente, é obscurecido e posto em segundo plano.

Nós, seres humanos, somos muito desatentos com a dor do outro. É necessário, por inúmeras vezes, que caia sobre um dos nossos ou sobre nós mesmos para nos fazermos solidários e compadecidos com os que sofrem. Em nossa humanidade praticamos atitudes inumanas.

Em meu jardim as flores não estão florescendo, e as que restam estão murchando. O inverno se faz rigoroso e não possuo previsão de mudança de estação.

O meu avesso é permeado de remendos, de costuras mal acabadas, fios sobrando, retalhos que não combinam com o restante. Sou um comandante buscando desviar dos obstáculos para salvar a si mesmo e aos tripulantes.

A cura não é igual, o avesso se encontra desajustado e o comandante em perigo.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 14/04/2019
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