Pescador

Eu sei o quanto acreditar no amor pode ser cansativo. Nos anos anteriores já me cansei muitas vezes. É como se você fosse um pescador no litoral à procura de peixes surpreendentemente encantadores, de repente não aparece um tão fascinante quanto você esperava que fosse, mas você experimenta tocá-lo só pra ter certeza. Você o acha bonitinho e leva consigo no seu barco, o deixa conhecer suas redes e viver um pouco no seu aquário da sala. Um tempo passa e você percebe que se acostumou com a presença dele. Até chegar um dia que você sente falta da pesca. Você resolve tentar a baía dessa vez. Acha milhares de peixes mais extraordinários, nem sabe por qual se apaixonar perdidamente. Você fisga um, às vezes dois, três... E com o tempo você desiste, são muitos peixes pra um só aquário. E pouca atenção pra tantos peixes. Mas algum dia, por azar – ou sorte, você perde sua rede pra um peixe grande na costa. Você busca pelo mais simples anzol de pesca no mercadinho da vila e se aventura numa embarcação miúda e ousada. Ao chegar lá, ou em outros oceanos, lagos ou pequenos córregos sem muita chance, você nota que o que lhe entusiasmava não eram os peixes, afinal muitos deles escapavam, se feriam, iam nadando contra você e a correnteza... O seu amor era a água: o oceano, o lago, o rio. Era o simples fato de estar ali. Não importasse quantas tentativas desperançosas lhe ocorresse, cedo ou tarde, você voltava lá e tentava mais uma vez. Talvez seja como um “pescador de ilusões” mesmo. Você arrisca as pessoas como os peixes, mas fica na defensiva, pois nunca tem certeza de qual delas pode te ferir e qual delas é o amor da sua vida. Ainda que chegasse o tempo de olhar por outros ângulos e ver o que deveria ter visto desde o inicio: O seu amor estava na ponta do seu nariz. Só precisava largar a isca, pois elas ferem. Quando largá-las e afundar seus pés em amores fundos, nunca mais desejará amores rasos, que dirá iscas. O verdadeiro pescador aprecia o mar sem esperar a pesca. Ela vem por si só, quando ele bem menos espera. Quando o tempo chega, ele vê que valeu a pena não só o que encontrou, mas o caminho que lhe trouxe até a beira. Até o amor.

Ana Carolina Fretta
Enviado por Ana Carolina Fretta em 13/04/2019
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