O sanguessugas
Há muito tempo Pedro procurava entender o que acontecia naquela pacata cidade de Minas. Embora mineiro de registro, deixou bem cedo a sua terra Natal, onde o dia começava mais cedo e a noite chegava bem rápido.
Curioso desde criança vivia bisbilhotando tudo que o circundava à procura de respostas. E mesmo que elas não fossem tão simples, estava ele lá, disposto a desvendar o mistério que se apresentava em torno de sua mente criativa, afinal, era de investigação que ele gostava.
Depois de assistir a dança das cadeiras por sucessivos anos, e tendo sido aclamado a voz do povo, porque de tudo sabia (pelo menos acreditava saber), ele resolveu assumir o posto de fiscalizador das ações governamentais dos poderes inerentes à Administração Pública e disse:
- De hoje em diante serei o detetive da Administração Pública.
Por todos os corredores dos prédios públicos via-se, de passagem, Pedro. Na sua tarefa de cada dia, subia e descia escadas, pulava rampas, apertava-se em estreitas portas, mas lá estava ele, sempre com uma bolsa de couro debaixo dos braços e centenas de papéis que iam e vinham dos mais diversos locais para sua humilde casa na Vila Vintém.
Embora tivesse caído no descrédito do povo, porque ações assim não se via, ele não se preocupava, apenas focava a sua missão, investigar o trabalho da administração pública.
Numa tarde de sexta-feira adentrou o recinto da “câmara de computados” e viu um enorme contingente de pessoal que o surpreendera. Mas nunca fora muito afoito, então aguardava ansioso a resposta que lhe viria da cronologia, permanecendo ele, assentado num pequeno banco.
Olhos pra lá. Olhos pra cá. E uma imagem o chamara a atenção. Parecia ter visto uma jovem menina (diga-se de passagem, bem bonita) entregando umas notas de dinheiro a um “computado”. Quisera ele ter a cara de pau de perguntar do que se tratava, afinal, se fora em público entregue, significa que não se trata de privada informação. Mas para meu governo, estava ao meu lado alguém muito mais atento que ele e dera as informações sem receio.
- É uma pouca vergonha essa câmara. A moça mostrou o “olerite” dela pro chefe, e fez o repasse acordado entre eles. Ela fica sempre com um salário mínimo, e o restante engorda o caixa e campanha. Que negoção! É de encher os olhos.
Pedro ficara por mais 20 minutos parado ali a procura de uma resposta, mas como não acreditou naquilo que dizia o vizinho de banco, ousou:
- Aquilo que disse em relação ao trabalho daquela menina é verdade? Ou estava tentando arrumar uma justificativa para o que não é da sua conta?
- Você está em que planeta? Alô! Marte chamando... Quem não sabe disso? Todo mundo sabe. Isso é Câmara. Isso é politicagem.
- Mas não fazem nada. Nem denunciam?
- Você quer perder a sua família? Então boa sorte. De que planeta você veio? Quem não conhece os sanguessugas, só pode estar morto, cego ou não nasceu. Cada uma!
E Pedro, naquela noite, voltou para casa desanimado e se sentindo enganado e engasgado. Foi ali que se desiludiu. E era só o primeiro episódio.
Há muito tempo Pedro procurava entender o que acontecia naquela pacata cidade de Minas. Embora mineiro de registro, deixou bem cedo a sua terra Natal, onde o dia começava mais cedo e a noite chegava bem rápido.
Curioso desde criança vivia bisbilhotando tudo que o circundava à procura de respostas. E mesmo que elas não fossem tão simples, estava ele lá, disposto a desvendar o mistério que se apresentava em torno de sua mente criativa, afinal, era de investigação que ele gostava.
Depois de assistir a dança das cadeiras por sucessivos anos, e tendo sido aclamado a voz do povo, porque de tudo sabia (pelo menos acreditava saber), ele resolveu assumir o posto de fiscalizador das ações governamentais dos poderes inerentes à Administração Pública e disse:
- De hoje em diante serei o detetive da Administração Pública.
Por todos os corredores dos prédios públicos via-se, de passagem, Pedro. Na sua tarefa de cada dia, subia e descia escadas, pulava rampas, apertava-se em estreitas portas, mas lá estava ele, sempre com uma bolsa de couro debaixo dos braços e centenas de papéis que iam e vinham dos mais diversos locais para sua humilde casa na Vila Vintém.
Embora tivesse caído no descrédito do povo, porque ações assim não se via, ele não se preocupava, apenas focava a sua missão, investigar o trabalho da administração pública.
Numa tarde de sexta-feira adentrou o recinto da “câmara de computados” e viu um enorme contingente de pessoal que o surpreendera. Mas nunca fora muito afoito, então aguardava ansioso a resposta que lhe viria da cronologia, permanecendo ele, assentado num pequeno banco.
Olhos pra lá. Olhos pra cá. E uma imagem o chamara a atenção. Parecia ter visto uma jovem menina (diga-se de passagem, bem bonita) entregando umas notas de dinheiro a um “computado”. Quisera ele ter a cara de pau de perguntar do que se tratava, afinal, se fora em público entregue, significa que não se trata de privada informação. Mas para meu governo, estava ao meu lado alguém muito mais atento que ele e dera as informações sem receio.
- É uma pouca vergonha essa câmara. A moça mostrou o “olerite” dela pro chefe, e fez o repasse acordado entre eles. Ela fica sempre com um salário mínimo, e o restante engorda o caixa e campanha. Que negoção! É de encher os olhos.
Pedro ficara por mais 20 minutos parado ali a procura de uma resposta, mas como não acreditou naquilo que dizia o vizinho de banco, ousou:
- Aquilo que disse em relação ao trabalho daquela menina é verdade? Ou estava tentando arrumar uma justificativa para o que não é da sua conta?
- Você está em que planeta? Alô! Marte chamando... Quem não sabe disso? Todo mundo sabe. Isso é Câmara. Isso é politicagem.
- Mas não fazem nada. Nem denunciam?
- Você quer perder a sua família? Então boa sorte. De que planeta você veio? Quem não conhece os sanguessugas, só pode estar morto, cego ou não nasceu. Cada uma!
E Pedro, naquela noite, voltou para casa desanimado e se sentindo enganado e engasgado. Foi ali que se desiludiu. E era só o primeiro episódio.