Ah, o mundo do trabalho

Estou no shopping e encontro uma amiga-colega de trabalho, do interior do estado. Pergunto se está ali a trabalho ou só passeando. Ela responde que está vindo do sindicato, pois assinou sua demissão da empresa .

Então, relata a cena do dia em que foi despedida: ... chorei muito, mas muito mesmo, foi muito horrível! Trabalhei normalmente num dia e quando cheguei no dia seguinte fui ligar o computador e minha senha não entrou, tentei de novo e nada, dai falei pra minha chefe que devia ter algum problema no sistema e ela me disse: - não é problema não, é que a partir de hoje tu não trabalhas mais na Empresa, vamos falar com a chefia superior...

O que dizer à amiga que ainda estava com a sensação de perda (ou em luto)?!

Não discuto os motivos da empresa, mas penso na forma como acontecem os desligamentos no mundo do trabalho.

Teve uma época que não entendia o choro de muitos daqueles homens (pra mim já velhos), que eram desligados, porque houve um acordo que parecia mútuo e resultava numa verba de valor respeitável. Não entendia, porque ainda não estava envolvida com os “Recursos Humanos.”.

Já no RH, quando aconteceu a privatização de dois terços da empresa, senti na pele o sofrimento da saída do pessoal. Sabia-se da existência de uma famigerada lista, que dividia o corpo funcional em três: quem permaneceria na empresa; quem iria para empresa B e para a C, mas a questão era qual o critério de escolha, para efetuar a tal divisão. Aí estava o mistério e o que gerou a maior disformidade no corpo funcional. Sendo do RH, por mais que eu dissesse aos colegas que desconhecia totalmente a tal lista, muitos não acreditavam. Sofri junto com todos, as partidas e os resultados daquele momento de caos.

Penso que por mais que se estude que se prepare que se tenha cuidado com as pessoas, quando se é “pessoa do RH”, é difícil lidar com desligamentos. No mundo do trabalho, o empregado está sendo regido pelo capital e a politica de estado. Tudo que uma empresa proporciona ao empregado (abonos, treinamentos, salários extras...) é para que ele reverta em força de trabalho, se sinta “motivado” a trabalhar. O empregado por sua vez reconhece os valores da empresa e se dedica, na grande maioria, por inteiro (mente, corpo e alma). Não se diz em RH que os empregados são a alma da empresa?!

Chegada a hora do rompimento do contrato assinado na admissão, sai a alma e fica a empresa, com outras almas lhe atendendo. Não importa se a empresa é pública ou privada, é assim que funciona. E fica o corpo sem alma e almas penando!

Algumas empresas agem abertamente, quando precisam fazer um desligamento em massa, mas outras temem não conseguir “segurar” todos os empregados até a assinatura da carta de demissão e agem de forma desumana.

O que posso dizer a minha amiga é que, Graças a Deus, a maioria do ser humano é resiliente. Resiliência é “A capacidade do ser humano de ultrapassar limites, tirando de dentro de si força para superar alto grau de dificuldade... Resumindo: É tirar forças das entranhas do teu ser.”.

Dia desses li a Carta aberta de uma ex-funcionária da VARIG, relatando todo o sofrimento vivido com o fechamento da empresa. Lá foi bem pior, pois junto com a empresa foi também a Fundação Aeros, tudo por um ato politico. Temos que ter cuidado, pois atos políticos ou politiqueiros podem por em risco todo o patrimônio que ajudamos a construir e que nos ajuda a deixar “menos ruim”, a situação de aposentados. Devemos ficar bem alertas.

Mas no final, por mais que se modifiquem as leis trabalhistas, o mundo do trabalho sempre será assim: homens trabalhando e empresas querendo lucros. Acabou o lucro, acabou o trabalho e o trabalhador que se "resilie".

Minha amiga sobreviveu ao trauma, esta bem, mas a dor daquele dia, tenho certeza, nunca se apagará, mesmo que se tenha as boas lembranças das horas vividas na empresa.

Tânia França
Enviado por Tânia França em 11/04/2019
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