PARA O LEITOR/COMENTARISTA. CRISTO E O COMUNISMO.

Do meu livro "A INTELIGÊNCIA DE CRISTO".

"Nos "Atos dos Apóstolos", para os primeiros cristãos, nada lhes pertencia como seu, nada lhes era exclusivo. Gozavam de tudo em comum. Não deixava de ser um princípio da própria natureza, onde já os selvagens tinham a propriedade em comum dos bens de consumo indispensáveis para sobrevivência. Usufruíam os selvagens, em comunhão, de tudo que a natureza lhes colocava disponível. Havia, todavia, a defesa territorial para a prevalência dos bens extraídos da natureza, porém, partilhados em comum o desfrute dos mesmos para o grupo. Era tal organização prática do comunismo? Faltava liberdade em favor dessa partilha de bens arrecadados em conjunto? Não.

O cristianismo primitivo, diversamente dos grupamentos rudimentares sinalizados e referidos acima, definia-se como uma sociedade de necessitados, um esforço enorme e heróico contra o egoísmo, sustentada a tese que cada um só tem direito ao que lhe é necessário.

O comunismo teve seus rudimentos inspirados em alguns doutores da igreja primitiva, sem caráter político, abandonada mais tarde a ideia da tradição evangélica de condenar a propriedade privada, não sem antes, com São Crisóstomo vociferando : "o rico é um bandido"; e São Basílio: "o rico é um ladrão". Santo Ambrósio esculpiu a trajetória doutrinária da época, pode-se dizer, raiz da recente teoria da libertação, nessa síntese: "A natureza estabeleceu a comunidade ; a usurpação a propriedade privada".

O comunismo das antigas comunidades cristãs (ecclesia) era comunismo de fundo religioso e místico entre os professos da nova crença com princípio na ajuda mútua, ou seja, não era comunismo sectário e não se retirava a liberdade de escolha; comunhão não admite restrição aos direitos fundamentais. E nesse ponto residiu o grande divisor de entendimento da “teologia da libertação” difundida nas Américas com impropriedade objetiva, conceitual e distanciada do real fundamento cristão, já que possibilitando a discórdia dividia ao invés de somar, trazia ruptura contrariando a fraternidade. A distinção política não deve abrir espaço no seguimento religioso. Papa João Paulo II foi duro para a América Latina com esse rumo que a igreja por parte de alguns abraçava e elegia como caminho preferencial, desvirtuando pela interpretação respeitável mas equivocada, as disponibilidades evangélicas para a feitura de justiça.

Desde a antiguidade até a segunda metade do século XIX não era o comunismo um sistema sem divergências, teoricamente, uniforme e harmonioso. Como pretendê-lo gestor de espiritualidades, ainda que aparentemente, buscando minimizar a pobreza?

A tônica central da tese comunista, a propriedade privada, gerou vários encaminhamentos. Uns queriam afastada qualquer propriedade, outros somente a propriedade agrária. Coube a Marx imprimir conceito doutrinário ao comunismo, avançando para abrigar muitas consciências, intelectualizadas ou não, pela extremada via da revolução pela força, com a supressão das liberdades individuais, ou seja, o culto do absurdo de retirada da liberdade .para realizar igualdades que nunca surgiram.

O nó que um dia desataria a escravidão da vontade pela supremacia do Estado diante do homem, está e estava justamente na supressão de seu maior bem, a liberdade; isto é verdade axiomática sem condições de ser contraditada.

De nada serve a vida sem liberdade e Cristo não professou de forma alguma sua perda pelo homem, bem ao contrário. Seria a abolição da vontade, e o que Ele mais enfatizou para seguir seu Pai foi a liberdade de escolha do homem, o exercício da vontade, soberana e inerente ao direito de cada um, direito fundamental. Cristo não veio para aprisionar vontades mas para libertar o sentido de discernimento e da avaliação indicando caminhos.

Quando a “Confederação Anticomunista Latino-americana” se dirigiu ao Papa João Paulo II pressionando pela expulsão da Igreja dos “bispos marxistas e padres guerrilheiros”, e que emitisse seu julgamento dos rumos que se desenhavam, a voz forte, segura e didática de João Paulo II se fez sentir em seu discurso no velho Seminário de Palafox diante de um auditório ansioso e ao mesmo tempo taciturno e cabisbaixo. Lá estavam cardeais, padres, membros de ordens religiosas e leigos. Disse então a autoridade papal de uma das maiores personalidades já vistas pela igreja: “Essa noção de um Jesus político, um revolucionário, o subversivo de Nazaré não se harmoniza com os ensinamentos da igreja.” E acresceu: “A igreja não tem necessidade de recorrer a sistemas e ideologias a fim de amar, defender e fazer a sua parte para a libertação do homem. A Igreja encontra em sua própria mensagem a inspiração para trabalhar pela fraternidade, justiça e paz contra todas as formas de dominação, escravidão e discriminação, contra a violência, os ataques à liberdade religiosa e os atos de agressão contra o homem e a vida humana.”

Era a ratificação da inteligência do Cristo pela autoridade de um dos maiores sucessores de Pedro. Se Poncio Pilatos tudo fez para não condená-lo como sublevador que não era, pretenderam integrantes da Igreja instituída séculos e séculos após, dar essa roupagem Àquele que absolutamente nada tinha de político. Jesus Cristo na sua investidura de espírito de forma alguma podia optar por parcialidades como faz o ato político. Jesus, Deus feito Homem, era de todos e falava a todos e para todos, o que não é objetivo da política nem dos políticos, fracionados em porções (partidos) de particulares interesses. Bastava segui-lo quem o elegesse como espírito não como matéria que é do que cuida a política. A missão de Jesus delegada a seus seguidores objetivou a vida de todos como está em Jo,10,10:“para que todos tenham vida e a tenham em abundância”.

A Conferência de Aparecida mostra os desígnios da inteligência cristã sem interpretações politizadas e esquivas. Reafirma e ratifica a “ação preferencial pelos pobres e excluídos” e o faz na certeza de que basta o evangelho para a prática da caridade cristã.

Esta visão de magistério é apontada como “implícita na fé cristológica” como realçou Bento XVI na abertura dos trabalhos em Aparecida, de forma a construir “estruturas de justiça” para que a dignidade humana e a vida sejam respeitadas em uma sociedade que se quer fraternal, sem agressões à liberdade individual.

Toda essa libertação sempre pretendida, logo que fundamento básico da pessoa, fez a humanidade transitar por diversos momentos épicos. Esse período de metamorfose na procura das liberdades pelo qual passou o homem, teve no famoso jacobinismo da França o ponto alto na vitória dos burgueses sobre os suzeranos na revolução francesa.

O Muro de Berlim fechou o ciclo ensinando definitivamente à humanidade que o homem nasceu para ser livre; esse é seu maior bem.

No socialismo verdadeiro, puro, seria encontrado o reparador caminho.. No ideal social-democrata apagariam-se as agruras do desencontro entre a necessidade e o capital, entre o Estado e os serviços essenciais postos à disposição de todos que pagam impostos. Das diferenças econômicas existentes entre os homens, nascem as desigualdades, pois cada um tem capacitação diversa do outro, com suas conseqüências muitas vezes nefastas; uns em extrema pobreza em confronto com excessiva riqueza de outros. Nas leis naturais encontram-se as verdadeiras causas da diferença, leis irrevogáveis.

Cristo mostrou o amor como caminho exclusivo de libertação e quem ama não suprime o maior bem humano, a liberdade, que habilita o homem a promover suas potencialidades proporcionando maior bem estar e provisão do que necessita de indispensável no seu dia a dia, em sentimento e matéria.

Quando se adequar à sociedade o princípio lançado por Ghandi com propriedade, abaixo transcrito, para equilibrar o correto e verdadeiro fiel da balança, distribuindo com equidade as necessidades básicas correspondentes aos direitos fundamentais de todos, poderemos ter paz e uma sociedade melhor, como exposto com clareza pelo grande lider, deixando para o mundo sem ser cristão, verdades cristãs integralmente aceitáveis e desejadas:

"Não posso antever, o dia em que nenhum homem será mais rico que o outro. Mas posso imaginar o dia em que os ricos rejeitarão enriquecer à custa dos pobres, e os pobres deixarão de invejar os ricos. Mesmo no mais perfeito mundo imaginável será difícil evitar desigualdades, mas podemos e devemos evitar conflitos e amarguras.” Ghandi.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 11/04/2019
Reeditado em 12/04/2019
Código do texto: T6621317
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