Normal idade?

Por acaso, encontrei ontem Rubem Alves. Ele me contava sobre a morte que existe no envelhecimento. Falava-me sobre a rigidez que vai crescendo naquilo que dá sinais de morte iminente. Fiquei pensativa nas minhas muitas mortes de cada dia... Mas como o cansaço da lida era grande no início da madrugada, cerrei as páginas e dormi feito pedra.
Hoje estava no carro com o meu filho de dez anos e ele cantava uma música americana no seu inglês de mentirinha. Gesticulava imitando o Homem-Aranha e ia feliz na sua viagem de gente vivinha da Silva.
Meu primeiro impulso foi de questioná-lo sobre a letra da música. Perguntei porque não aprendia a letra correta para cantar "certinho". Ele fez que não ouviu e eu falei mais duas vezes sobre o "listening" como uma ótima opção de estudar o idioma tão útil no mercado de trabalho.
Ele, na sua vivacidade luminosa interrompeu a sua "apresentação" que só ele podia ver e me disse rapidamente que a música era de fundo do "filme" que ele protagonizava e que não tinha nenhum problema em não se cantar a letra em inglês de verdade.
Na mesma hora lembrei do texto de Rubem Alves e então pude perceber a minha primeira morte deste dia. Sorri e concordei com o menino... Não tinha mesmo o menor problema!
Segui o caminho ouvindo a música cantada por ele e fui pensando nas minhas demais mortes que já poderiam ter ocorrido desde a manhã, sem que ao menos eu tivesse me dado conta... Então aprendi que quando a gente se sente rígido, inflexível e normal demais, precisamos conversar com as crianças, entrar no mundo delas, viajar em seus barquinhos de papel, foguetes de papelão e filmes feitos de imaginação. Talvez assim possamos ter novamente o frescor do vento e quem sabe, possamos dançar feito varas de bambú.
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 10/04/2019
Reeditado em 22/12/2020
Código do texto: T6620260
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