Ilha de tintas (BVIW)
A romã cortada em metades descansa no parapeito da janela... As cores esmaecidas, mas ainda, vivas marcam a passagem do tempo, e aos poucos, mesmo imóvel seus tons de vermelho - ferrugem tinge a janela. A fruta lembra uma ilha cercada de madeira antiga: uma ilha de tintas. E, imagino rendadas ondas de vento, aconchegando-se às suas sementes banhando-as, em uma mágica pausa do tempo.
Encanta-me os mistérios do tempo, da sintonia entre os segundos e minutos que passeiam no relógio de parede; a melodia cadenciada dos ponteiros que insinua e incentiva reflexão e sonhos, diante da brevidade da vida e da fragilidade das folhas que recebendo as pinceladas do outono modificam a paisagem, delineando poemas nos bancos de praça.
Ao segurar uma folha sinto suas concavidades e texturas como se ela fosse uma “lâmpada de Aladim” e caso, pudesse me conceder dois desejos, quais seriam? O primeiro seria que a Poesia se mantivesse viva no olhar, em versos, em livros... e o segundo desejo seria que a sensação única de eternidade e gosto doce do beijo que trocamos permanecesse nas linhas dos nossos lábios.