PUNKS ANTES DOS PUNKS

Pra quem viveu como eu a infância e adolescência na periferia de Sampa teve que se segurar para não seguir caminhos transversos. Eu mesmo, moleque criado na Vila Brasilândia, vivi fases inusitadas neste bairro da Zona Norte.

Entre os 12 e 17 anos fui de uma turma de punks, sem fantasias e laquês, antes de existir punks, andávamos todos armados com cabos de aço, alguns com canivetes pequenos, e brigávamos toda semana. Subíamos e descíamos os morros e baixadas em bando.

Mas, o nosso barato era apenas jogar bola, ir a bailinhos e ao cinema aos domingos e brigar. Por sorte, naquela época, a droga era restrita ao pessoal barríssima pesada, nem maconha chegava à nossa roda. Se tocássemos guitarra, poderíamos ter fundado o movimento punk, antes dos ingleses.

Éramos moleques pobres, destemidos, mas não havia muita briga de gangues, geralmente as disputas eram na base de flâmulas no futebol. Alguns destes amigos, entretanto, seguiram para o crime, muitos morreram nessa vida. Pau mesmo era quando íamos no parque de diversões da Itaberaba ou a outros bairros vizinhos.

Depois veio a fase de boy, de hippie (sex drugs and rock n roll and walk from the road) e das passeatas, tudo vivido com intensidade, dentro das limitações do regime militar, que tínhamos então. E sempre com a Polícia pedindo documento com registro na Carteira e sendo enquadrado pela cavalaria e quetais nas esquinas da Vila..

Muita gente não viu, não dormiu no sleep-bag e nem sequer sonhou.