Proposta
Eu te proponho, viver.
Algo demasiadamente desafiador, caso olhe as perspectivas com atenção.
Basicamente é um contrato feito com letras minúsculas, inelegíveis, e de conclusão imprevisível.
Excitante, não?
Pense nas inúmeras horas, com infinitas possibilidades a seu dispor. Acordar, todos os dias com uma página em branco que clama por tinta.
Que tal mudar o roteiro, alterar a rotina?
Reformule acordos, elimine os sofismas. Procure se livrar da "nóia" de que alguém, propositalmente, quer te enganar, mas não seja ingênuo ao pensar que o mundo está disponível para lhe estender a mão.
Realize que você está por conta própria, se não agora, em algum lugar no futuro. Contudo, até aqui, você amealhou alguns talentos como ferramentas para se virar. Isso também é libertador!
Imagine, só por um segundo, que legal seria reescrever sua história, ou dar uma virada. Quantos não adorariam essa oportunidade?
Por outro lado, se a coisa anda bem ruim, saiba que existe sempre um plano B, e com isso, retorno às perspectivas.
Pense no tempo desperdiçado no celular, nas maratonas em séries, nas baladas de onde volta mais vazio, nas horas extras por trocados ou para puxar o saco de um chefe que nunca te enxerga. São horas preciosas que poderiam ser investidas em algo que poderia realmente ressignificar sua vida, se você se dispusesse a despender algum planejamento.
Por hábito, tendemos a nos agarrar a justificativas que sabemos que podem ser dribladas. Arrumamos desculpas para não sairmos do conforto do comodismo e até da dor. Às vezes estamos tão doentes que fazemos amizade com ela. Tipo Síndrome de Estocolmo, sabe?
Não estou banalizando, mas, bem lá no fundinho, você sabe que tem outro jeito. O medo é como uma barata voadora. Ela não nos devora, mas paralisa.
Entretanto, também temos o poder alquímico de transformar quartas e sábados, quando nos convém.
Quando nos predispomos realmente à algo, não tem pra ninguém! Comemos pizza no meio da dieta e dividimos em doze vezes no cartão - prefiro sem os juros. Sairíamos da zona sul para Xerém, se o amor de nossas vidas nos convidasse para conhecer seus pais. É aí que lanço o desafio de se permitir sonhar, realizar, reinventar.
Em dias tão sombrios, onde os semblantes andam abatidos, afetados por notícias avassaladoras que atingem a maioria dos pobres mortais, temos o dever de reagir no campo do possível. O impossível pode até vir a surpreender.
Não é para subestimar a dor, apenas digo que existem formas e formas de lidar com os infortúnios.
Exemplo: não há como alterar a morte, mas há como aceitar que faz parte do esquema da vida. Podemos superá-la ou viver de uma forma melhor a dignificar o tempo da existência.
Devemos, SIM, desengavetar sonhos possíveis, ou tentar chegar perto dos nem tanto. A jornada pode valer a pena. O tentar com empenho seria uma rebelião contra a desistência covarde.
Comece suave, com um simples "bom dia", quantos forem possíveis. Arrume o quarto. Arrume-se!
Se não está feliz, resolva as responsabilidades, considere as imprevisibilidades, e saia.
Arrisque-se um pouco. Pense, antes de falar. Respire, antes de agir. Planeje, antes de executar. Olhe-se com mais condencendência e perdoe-se pelo que não deu para ser.
A vida tende a ficar mais leve quando nos permitimos ser leves.
Tá ruim pra maioria e, se você faz parte dela, seja mais gentil com os que estão ao seu redor.
É muito difícil ser bem informado e feliz ao mesmo tempo. Desconecte-se um pouco do mundo e conecte-se às pessoas. Grandes amizades, parcerias e casos de amor podem surgir nos hiatos abertos na avalanche de más notícias.
Sua mente vai respirar e você corre o risco de ter sua melhor noite de sono em tempos.
Sabemos que no fim deste filme, todo mundo morre. Isso não significa que devemos agonizar durante a filmagem.
Então, proponho que viva!
Estou fazendo minha parte, escrevendo para você.
Somos constantes recomeços.