Na barbearia

É uma experiência agradável e interessante a ida a uma barbaria. Embora tenha esse nome não me lembro de ter feito a barba num estabelecimento desse uma única vez na vida, mas o nome é esse e espero que não mude, embora as barbearias tenham se modernizado e agregado ao seu rol de serviços coisas antes inimagináveis. Creio que se mudar, a essência e mística que cerca esses lugares acabarão deixando de existir. Imagina só como será estranho dizer que vamos no coiffeur?

Sempre vou cortar o meu cabelo na mesma barbearia, com o mesmo barbeiro, desde que me lembro. Cheguei lá levado pelo meu avô ainda criança, depois que o barbeiro amigo dele há uns 50 anos faleceu, e nunca mais deixei de ir. Interessante notar, que diferente das mulheres que mudam sempre que existe uma novidade no ramo ou o preço começa a ficar salgado, nós homens temos com os barbeiros uma espécie de casamento não declarado. Não vivemos trocando de barbeiro o tempo todo. Temos um profissional conhecido que sabe o que gostamos e somos fieis a ele. Devo confessar que não sei o que irei fazer quando o “meu” barbeiro se aposentar. Afinal, não preciso falar nada, apenas me sentar na cadeira e ele deixa o meu cabelo do jeito que eu gosto. Nas pouquíssimas vezes em que recorri a outros profissionais, não deu muito certo.

Pois bem, como estava dizendo é uma experiência interessantíssima a ida ao barbeiro. Primeiro, por que é um lugar, um dos poucos lugares, que resta ainda franqueado aos homens. É bem verdade que vez por outra parecem mulheres, mas isso é uma exceção. Segundo, é que como sendo um ambiente excessivamente masculino, se vê uma camaradagem especial entre os frequentadores, que dada a assiduidade dos encontros, vão ao longo dos tempos se tornando amigos, camaradas. Terceiro, por que é um lugar onde se pode discutir “coisas de homem” sem censura.

Naturalmente que as discussões sobre futebol e sobre mulheres dominam o ambiente. E no meio de uma gritaria geral, todos se entendem. Eu, que não conheço nem entendo de futebol, pesco uma informação aqui outra ali, dou uma modificada para não ser repetidor quase plagiário das opiniões alheias e também contribuo com a discussão dando meu pitaco. Difícil é responder as perguntas diretas sobre determinado zagueiro que fez um determinado gol em um determinado jogo e que os mais velhos insistem em esquecer o nome. Sempre achei que é uma prova de competência pra se frequentar tais reuniões. Sobre mulheres já é diferente. Embora alguns mais exaltados, tendam a tecer comentários, que mesmo num ambiente essencialmente masculino soam grosseiro, em geral há comentários sobre a beleza do derrière de uma moça que passa. Mas tudo na maior inocência, mesmo por que os senhores casados que frequentam o lugar, insistem em jurar que só tem olhos pra suas “patroas”.

A coisa só esquenta mesmo quando o assunto é política. Nessa hora não há amizades, não há camaradagens, não há nada. Isso, vez por outra, resulta em quase embate físico. Cada um que defenda de forma mais aguerrida sua posição. Até que o expediente acaba e todo mundo é obrigado a brigar em outro lugar.

Bruno C Soares
Enviado por Bruno C Soares em 09/04/2019
Reeditado em 29/09/2020
Código do texto: T6619083
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