O que temos hoje
Minha casa revela minha alma por inteiro. Nela tudo gira. Os objetos e móveis se revezam e se adaptam aos novos locais, sem resmungar. Assim, nunca me canso e posso mudá-los sem custo algum.
Ela está sempre em movimento, de cara maquiada ou reciclada. Escondo e retiro das gavetas, meus objetos afetivos. Os que me seduziram ou deixaram marcas em minha alma.
Atualmente, somos mais enxutos, com tempo reduzido e enormes saudades. Adquirimos e hoje, resta-nos conservar com responsabilidade. Não nos permitimos sobras, consumismo está desatualizado.
Aprecio esta onda clean e pretendo saltar de cabeça, aproveitando esta vibe. Mergulhar e emergir só eventualmente, pois errar é humano e temos as nossas recaídas. Ninguém é de ferro e eu me permito satisfazer "desejos fitoterápicos".
Nossas vitórias, dores, lutas, lembranças e inúmeras alegrias, não podem se perderem. São relíquias do meu coração. Moldando e bordando a minha história, reviso o batalhão dos meus pensamentos. Minha preocupação é de que possa ser útil. Em que ponto e a que ponto, vocês fazem parte deste meu relato tão particular ?
Pensei em descrever, um fragmento do meu céu particular. A intenção era ampliar espaços, direcionar agrados e destralhar inutilidades.
Adorei este recurso e passarei a descrever, o que vejo, visitando a janela do meu corredor.
Neste exercício, me apresso. Descobri que ninguém poderá fazer isto por mim.
Dói, como é angustiante... Meu consolo veio rápido. Sou responsável pelos meus guardados e escondidos. Mãos a obra. Sinal de utilidade, amém.
Yara Aguiar Rezende de Paiva
Araxá, 07/04/19