O SONHO DO ESQUECER
O SONHO DO ESQUECER
Agora entendo ser o amor uma caixa de eternas surpresas, as mais surpreendentes possíveis. E que nos dias de carnaval eu adoeci, e só fiquei, em peregrinação, sobrevoando os montes do pensamento, quando o silencio se fez mais profundo e a curiosidade ainda maior. É que e preciso ser muito infeliz para obter a piedade e muito fraco para despertar a simpatia, e que diante desse laconismo, todos os dramas e romances empalidecem... Assim, quando se esvaem pelos dedos a derradeira poeira da confiança, surge a duvida, e embora se conservássemos a lucidez enganadora, nas ideias, nos sentidos e em ultimo frêmito, simulacro imperfeito do amor, era-me impossível reconhecer o que havia de irreal nas fantasias e na musica ensurdecedora que ainda povoa a minha mente, noite adentro em tantas meditações, o céu sufocando meus sonhos e a ardente suavidade das miragens que acreditei serem reais...
Mas, a vida é mecânica e conduz a uma sabedoria insana a sufocar a nossa inteligência, enquanto a existência transcorre no vazio das abstrações ou nos abismos do mundo moral. É uma escolha única, mas, tem-se que tomar: Matar os sentimentos e viver ate a velhice, ou morrer jovem aceitando os martírios das paixões.
Na verdade, eu não sei devo atribuir à cerveja, a lucidez que me permite abarcar nesse instante toda a minha vida, como em um filme, no qual sou protagonista e tudo, do inicio até agora são reproduzidos, pode parecer um jogo poético de minha imaginação que não me surpreenderia se não fosse acompanhado de uma espécie de desdém por meus sofrimentos e alegrias passadas apesar das súbitas revelações de minha força na solidão. É que as vezes é necessário abrir-se um caminho no mundo e ficar só e menos receoso do que envergonhado. É que meus sentimentos sempre estarão em desacordo coma imoralidade e a servidão, talvez seja essa a desgraça dos poetas ou o sonho do esquecer...
Airton Gondim Feitosa