Das coisas do espírito

Das coisas do espírito. É o que desejo escrever hoje.

O termo “das coisas do espírito” não fazia parte do meu vocabulário, e acho que eu sequer um dia conseguiria formular esta expressão. Não tenho um repertório rico de palavras, e às vezes tenho dificuldades de fazer as devidas conexões, substituições e aprimoramentos. Se eu não revisar um texto pelo menos três vezes, facilmente perceberão o quão pobre é o meu leque de opções.

Mas enfim. O termo “coisas do espírito” surgiu na minha vida ao assistir uma entrevista antiga da Clarice Lispector no Youtube. Entendi, ali, que uma pessoa seria dada às coisas do espírito no sentido de escrever para além do que é visto, mesmo em se tratando de uma crônica para uma coluna de sábado, entendem… não precisa falar sobre religião, sobre conceitos metafísicos e sobrenaturais. As coisas do espírito estão envolvidas no mistério, é claro, ultrapassam certa capacidade que temos de explicar ou delinear. Mas podem ser coisas banais, como a experiência na calçada do quarteirão, entre o pipoqueiro e o porteiro de nosso prédio. Muito do mistério nos é fornecido através destas experiências banais e que estão diante de nós com certa frequência.

Desta forma eu penso que viver no espírito - e assim também ser dado às coisas do espírito - é não deixar-se contaminar, ora pelo desprezo às coisas banais, simples e corriqueiras da existência, ora pelo apreço desregrado pelo poder e apego às coisas materiais, que nos tornam pessoas desejosas do primeiro lugar.

Não sei se fui claro, mas posso continuar a reflexão.