A GENÉTICA DIVINA

Yuval Noah Harari reservou o último capítulo de “Sapiens — Uma Breve História da Humanidade”, para algumas hipóteses sobre o futuro da nossa raça. Podemos ser uma das últimas gerações de Sapiens. Estamos assistindo a pré-história da genética. Talvez, o alvorecer de uma nova raça. De uma nova divindade.

Na ficção, Michael Crichton adaptado depois para o cinema usou a genética e trouxe os dinossauros de volta à vida. No mundo real, a genética também revela interesse por seres extintos. Com seu genoma encontrado congelado na Sibéria, e usando o óvulo de uma elefanta geneticistas planejam o nascimento de um mamute.

A ideia não é parar nos mamutes. Com o genoma dos Neandertais uma das raças que antecederam os Sapiens, 30 milhões de dólares, dinheiro de banana para a pesquisa cientifica seriam suficientes para fazer um Neandertal nascer em pleno século 21.

Estando na pré-história, a genética será por um tempo ainda assombrada pelo “Frankenstein”. Os muros dos mitos da ética da moral e dos dogmas religiosos levantados pelos conservadores. Cedo ou tarde, as maravilhas da genética derrubaram todos esses muros. Para essas maravilhas nunca faltarão financiamentos e interessados.

Será que ainda fará algum sentido a “vontade divina” quando os primeiros seres dessa nova espécie deixarem de sentir dor. O que é mais preferível. Continuar comemorando o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, ou pertencer a uma raça em que o autismo não exista. Sem outros tantos males que matam e invalidam.

Pensem numa raça com a capacidade de manipular seus desejos. Hoje nós ouvimos os downloads das nossas músicas favoritas. A nova raça poderá buscar o download da felicidade que sentiu no mês passado. Poder escolher a cor dos olhos do seu filho. Os idiomas que ele falará. Ter a liberdade de abortar ao saber que no futuro seu filho será um criminoso. Provocará alguma tragédia.

Se um asteroide não estiver em rota de colisão com o planeta Terra, só existem dois cenários de futuro para o Homo Sapiens. Nos dois seremos extintos. Uma é provocar nossa própria extinção. Já demos demonstração do que somos capazes. A outra é ser extintos pela raça superior que estamos começando a criar. Por enquanto, ainda temos influência sobre ela. Só que não tardará aparecer o nosso tão conhecido “livre-arbítrio”.

Como reflexão pela sobrevivência, Harari sugere trocar “o aquilo que queremos nos tornar” por “o que queremos querer”. Os Sapiens da Revolução Agrícola não refletiram quando foram escravizados pelo trigo. Dificilmente nós os “modernos” refletiremos.

Somos curiosos com os extintos a ponto de tentar recriar Neandertais e mamutes. Não creio que despertaremos a mesma curiosidade da raça que surgirá com a nossa extinção.