A FOFOQUEIRA E A TECNOLOGIA.
Todos os dias ali ela estava.
Ficava sempre a espreita na porta.
Tudo observava o dia inteiro.
A loja de roupas parecia só desculpa de ficar com a porta aberta e na cadeira do lado de fora com a fala costumeira:
-Está frio lá dentro,to esquentando aqui no sol.
Assim ria, uma gargalhada envolvente, por nada.
Todos que passavam eram abordados com sua prosa com o intuito de saber um pouco da vida alheia.
Todos sabiam da sua fama, ninguém se importava.
Tudo sem maldades maiores.
Terminava sempre o papo mandando mais uma novidade acontecida da rua.
-Sabe que fulana está separando, também estavam sempre brigando, briga feia, daqui de casa eu escutava tudo.
Ainda completava:
-Aquele tal também né, só andava bêbado.
Sua vida era a vida dos outros, o seu dia era saber o que acontecia na rua.
Aquele pedaço da cidade parecia ser de sua propriedade.
Falava alto, ria alto, mas todos que estavam de passagem, acabavam sendo cativados a levar um papo, mesmo que fosse rápido.
Alguns mais chegados, ainda encontravam tempo para um café, com esses então é que a prosa fluía solta.
Verdade é que com a tecnologia do mundo moderno, estas pessoas tornaram-se raridade.
Hoje ninguém quer perder tempo sentado na porta de casa.
Tudo é WhatsApp, computador. A vida corrida.
Conversar, olhar nos olhos, rir de nada, interagir, foram sufocados pela modernidade.
Talvez por isto, desde o dia em que a hipertensão agravada pelo diabetes levou embora a fofoqueira, tornou-se impossível não lembrar dela todas as vezes que alguém passa ainda hoje, naquele pedaço da rua...