ESTOU COM MUITO DÓ DOS HUMORISTAS BRASILEIROS

A profissão de humorista, no Brasil, passa por uma séria (sem trocadilho) crise. Estou com muito dó deles. Bate-lhes à porta o desemprego; bate-lhes à porta o desprestígio; bate-lhes à porta o não ter mais como fazer graça; bate-lhes à porta o fato de que há um fato irreversível: quem vai pagar para ouvir uma piada, nos dias de hoje?

Os programas humorísticos da televisão vão perder os patrocinadores; os teatros vão-se esvaziar; os humoristas, coitados, passarão a ser vistos, todos eles, como amadores, incompetentes, por não mais conseguirem fazer rir ao povo.

Lembro os antigos programas e seus grandes nomes: Chico Anysio, Jô Soares, Costinha, Agildo Ribeiro, Manuel de Nóbrega, Juca Chaves, Grande Otelo, Oscarito, etc. etc. etc.; aí estão tantos outros das novas gerações: Tatá Wernek, Marcelo Adnet, Eduardo Sterblish, Fabio Porchat, Rafinha Bastos, Gregório Duvivier, Bruno Mazzeo, etc. etc. etc. – todos eles agora e por algum tempo (é o que se espera) relegados à condição de expectadores inertes de uma realidade totalmente surrealista, a de que não têm mais graça!

Puxa vida! Nem mais uma piada profissional! Nem mesmo aquelas politicamente incorretas? Nem piada de português, nem racista, nem misógina, nem homofóbica. Até piada de papagaio perdeu a graça. Nada, nada mais que eles digam tem o condão de fazer povo gargalhar, ou dar uma risada, ou um riso sem graça. Sem graça? Sim estão todos sem graça! De repente, ficaram mudos nossos humoristas, embasbacados pelo que anda por aí...

E o que anda por aí, que embasbacou nossos humoristas? O que está acontecendo que humilhou os mais hábeis piadistas? Que fez o público olhar para eles com cara de ué, e dizer: que é isso, caras? Atualizem-se. Vocês são agora meros bobos da corte sem corte, e até ficaram mais bobos do que bobos da corte, porque suas diatribes piadísticas encontraram concorrentes de peso, embora amadores.

Sim, meus amigos, surgiu uma nova trupe de humoristas amadores, mas com uma força tremenda de fazer rir, com um repertório absurdo de piadas, com uma capacidade de renovação diária de chistes e gozações, com, enfim, aplomb impossível de ser alcançado por quem passou a vida toda fazendo rir e agora perde o bonde da história, perde a graça, perde as plumas.

E essa trupe fantástica se instalou no centro do País, com todos os holofotes, com toda a mídia a espalhar e multiplicar para todos, diariamente, seus chistes, suas piadas, seus ditos engraçados, para a gargalhada geral do povo, com um repertorio realmente impressionante, diretamente do Palácio do Planalto, desde o dia primeiro de janeiro do ano da graça (do riso e do escárnio) e da desgraça (dos humoristas e... ai!... de todos nós) de 2019.

Chorem todos os humoristas, que perdem e perderão seus empregos. Chorem agora, que o povo... bem, o povo vai chorar, sim, mas vai demorar um pouco. Por enquanto, o povo gargalha e ri, como o palhaço triste de um velho soneto.

(P.S.: quem deve estar rindo muito é o FHC, que passou a faixa de pior presidente da história para o coiso).

5.4.2019

Blog Veneno de Cobra XXI

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