mesmo com todas as nuances conspiratórias do meu portfólio de perdão
Lembro de quando eu dizia que o perdão era uma coisa que deveria ser praticada pelo bem próprio. De forma egoísta, que fosse. “Eu te perdoo porque não quero esse peso em mim”. Talvez as pessoas mais “minhas”, soubessem o que meus olhos, de fato, revelavam: eu trazia uma mágoa ainda sem perdão nesse peito e lidava sozinha com o conflito de estar consciente sobre as proezas de perdoar e a incapacidade de fazê-lo. Apesar disso meus conselhos nunca eram rancorosos, afinal eu sabia o quanto o rancor adoecia o estômago e alma. E era por saber, que eu repetia a quem fosse: perdoe pensando na gratidão. A pessoa que ofende está em dívida com a lei do retorno, você não.
Por fim, humanamente falando, perdoar e ser perdoado são processos longos. E isso vai além de uma mágoa que a gente pinta de primaveras para que não doa tanto no inverno.
Eu sequer sei se consigo perdoar toda a conjunção semântica e histórica que me levou a estar aqui hoje, no Brasil de 2019, digitando meus pensamentos desconexos para um punhado de gente que já carregam seus próprios pesos.
Talvez eu não me perdoe por estar tão atenta; por buscar a verdade; por ser tão coração. Talvez eu não perdoe Cabral; a escravidão; a ditadura; você e a Dilma – minha mãe que me deu à luz com a lua em câncer.
Mas, mesmo com todas as nuances conspiratórias do meu portfólio de perdão, eu estou aqui nesse Brasil, nesse você e nesse meu coração que ainda quer – até o último fio de esperança – acreditar na humanidade.
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