farinha do mesmo saco?

(texto originalmente publicado em junho de 2017)

Diante da chuva de denúncias de atos ilícitos envolvendo as maiores autoridades do país, de governantes, do legislativo e do judiciário, algumas dúvidas emergem: são todos iguais, farinha do mesmo saco? Não se pode mais confiar em ninguém? O que será do Brasil? O que podemos fazer por nós e pelo país? Não há mais esperança?

Perguntamo-nos se, seja qual for o partido, seja qual for a ideologia, seja qual for o cargo, seja qual for a origem e os eleitores, são todos ou corruptos de nascença, ou corruptíveis pelo sistema político degenerado que se instalou no país.

Há as chamadas pedaladas fiscais, o superfaturamento de obras, as propinas de empresas, o uso de verbas ilícitas nos caixas dois e três de campanhas eleitorais, o suborno de governantes, políticos e juízes para compra de decisões, a arapongagem (escuta ilegal), os desvios de verbas públicas... São muitos crimes! Há como distinguir quais os mais ou menos desprezíveis? Mas, por certo, todos são crimes, e todos têm que ser firmemente combatidos.

Mas talvez existam níveis de criminalidade mais nefastos. Entre eles, o de julgar que seres humanos não sejam iguais, que sempre haverá um grande rebanho de párias inferiores, que precisam ser sacrificados em nome da satisfação dos desejos dos privilegiados das castas nobres. Os praticantes deste crime são segregacionistas, intolerantes com diferenças de raça, religião, cultura, sexo, ideologia, classe social...

Ele confunde-se com o crime da soberba, com o próximo, com animais e plantas, com a nação, com o planeta. Este crime resulta da falta de percepção do mundo para além de si mesmo. Resulta de um exacerbado egocentrismo, que gera não só a ambição insaciável, mas também a falta de princípios éticos, a falta de fidelidade a um ideal, a um grupo ou família, a um programa de partido, a um país. Os praticantes deste tipo de crime são capazes de assaltar os cofres públicos, envenenar alimentos, sabotar a merenda escolar, falsificar medicamentos, enganar os eleitores e amigos, empobrecer os pobres e enriquecer os ricos, contaminar as águas e o ar, exaurir os solos, ameaçar a biodiversidade, lotear empresas, terras e o patrimônio natural do país.

Será que hoje em dia todas as autoridades têm cometido os mesmos tipos de crimes? Talvez uma maneira de discernir entre os tantos erros e crimes que têm sido cometidos é procurar enxergar quem tem cometido os crimes de discriminação social, de entrega dos bens e riquezas do país e de disseminação da desesperança.

Não pode haver crime pior do que o da desesperança. Há que cultivar a esperança para evoluir no sentido da justiça social, da soberania, da liberdade, da qualidade de vida, da solidariedade, da alegria de viver e do aprofundamento da cultura, da arte e da sensibilidade. É isto que têm pregado os profetas das religiões, que temos venerado ao longo dos milênios, mas cujos ensinamentos resistimos assimilar.

Entre os tantos crimes que têm sido cometidos nos tempos atuais, é imprescindível saber discernir. Há entre eles erros que são passíveis de correção. Errar é humano, e mais humano é reconhecer o erro e procurar corrigi-lo.

Mas a índole de semear desesperança e acomodação para amealhar proveito próprio, este é um crime que tem que ser vencido com firme luta. A luta pela esperança. Luta por mudança, que se alcança com discernimento e engajamento.

Publicado no blog http://perrengasprincesinas.blogspot.com/2017/