Histórias de ônibus:
Essa é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com fato real
É mera coincidência.
Maria do rosário era o nome da querida tia Zazá (que Deus a tenha em bom lugar), gente boa, muito divertida e querida por todos, sem demagogia. Dada a cometer gafes, tadinha, sem se arremedar dos burburinhos que causava onde quer que fosse. Dentro de ônibus? São incontáveis os percalços por que passou e nem sequer se deu conta da maioria deles. Mas um, e esse que vou relatar aos meus caros leitores, foi tão terrível que chegou a mim, décadas depois do ocorrido.
Tia Zazá sempre foi muito falante, conversando com quem quer que estivesse ao seu lado, dando-lhe atenção ou não, muitas vezes ela proferia longínquos monólogos a dois, falava de receitas caseiras, dava pitacos em namoros de celebridades, apontava aquilo que julgava serem falhas na educação dos filhos de terceiros, enfim. Dentro de ônibus era como se um medo incomum a dominasse e isso lhe causava algum tipo de fobia que a fazia falar pelos borbotões.
As perguntas que eram dirigidas ao amigável Sinesíforo, ela se sentia na liberdade para interpor-se ao interpelador e respondia com a certeza que seu rosto delicado expressava na sabedoria de muitos anos. Claro que a pessoa seguia as orientações incisivas. Mas, noutro dia, ela ouviu uma voz feminina solicitando uma informação ao motorista do ônibus a cerca do itinerário que o coletivo fazia e se iria passar pelo bairro de Santa Tereza, um dos bairros charmosos de Belo Horizonte. Tia Zazá foi categórica ao informar o trajeto que o ônibus faria até chegar ao destino da solicitante. A mulher entrou no ônibus, pagou a roleta e dirigiu-se ao banco perto do cobrador, que assistiu à cena, meio atônito.
- O que a senhora perguntou mesmo? Se esse ônibus vai para o bairro Santa Tereza? - Perguntou o assistente de bordo com olhar manso.
- Isso mesmo. Preciso descer logo depois da Rua Mármore... -
Nesse momento ela foi interrompida pelo gentil servidor responsável pelos trocados.
- Não senhora! Esse ônibus não vai pra lá não...
- Claro que vai! - interrompeu tia Zazá com olhar de estupefação diante da afirmação tão categórica.
- Não, minha senhora. Esse ônibus vai para o bairro Prado.
Tia Zazá acabara de descobrir que ela estava no ônibus errado. A senhorita que pediu a informação, tinha pagado a passagem, rodado a roleta e agora queria dizer poucas e boas para tia Zazá que, a essa altura, estava em pé lá na frente sinalizando desesperada para desembarcar daquela desacertada viagem.