A era tecnológica trouxe um presente magnânimo para aqueles que gostam de ler (claro que tudo tem um preço) mas você pode baixar livros, revistas, jornais em qualquer lugar e lê-los. Para aqueles que desconhecem essas vertentes o celular parece apenas um brinquedo viciante, mas não é. Então, para os amantes literários qualquer espera (fila, médico, metrô, escola) é tempo. E vamos seguindo nosso caminho até que, aparece alguém para interromper nossa leitura de forma sublime.
Era um senhor de aproximadamente 65 anos, ressabiado, que iniciou o assunto perguntando sobre minha idade e logo afirmando que parecia ter 27, como a filha mais jovem. Olhei sorrindo e perguntei:- Por que quer saber? Ele, naquele mundo exclusivamente dele continuou dizendo que era curiosidade e que não estava bem naquele dia, afinal sua esposa tinha problemas. Pra engatar uma prosa, primeiro perguntei se ela estava doente, acamada. Ele disse com olhar pesado, triste: o problema dela é espiritual. Sem esperar qualquer resposta continuou dizendo que ele era umbandista e que durante 32 anos a vida dele era maravilhosa, pois fazia cada oferenda linda, a ponto de as pessoas tirarem fotografias nas encruzilhadas. Disse ainda, que o cavalo branco ficou do lado dele, tocando-lhe o ombro, numa dessas. Emendou dizendo das aparições na cachoeira e tantos outros casos (para os quais não esboçava nenhum sentimento de afirmação ou negação, afinal desconhecia os rituais). Até que ele disse que sua esposa passara a frequentar uma igreja de denominação cristã evangélica e que lá, deixava todo o dinheiro da aposentadoria dele, que era doente, desamparado. Não bastasse esse relato, afirmou que ela já havia comprado vassoura ungida, óleo da riqueza, água da fartura, moeda da prosperidade e que, no fim, estava pagando mensalmente um tijolo para chegar ao céu. E como não sabia que hora Deus ia chamar, os pastores sugeriam a aquisição de quantos mais fossem possível. Ele, desamparado pelos familiares que moram longe, vive sozinho com a esposa, por quem nutre muito carinho e respeito, além de confiança. E disse que hoje ao sair de casa, antes de irem pagar o boleto do plano de saúde (único que “Deus” não restringe por ser de saúde do corpo), disse a ele que a abundância e a prosperidade da casa, perdida há anos, se deve às sujeiras praticadas por ele na, que ela define “religião satânica”. Ele crendo fielmente nisso, está juntando um dinheiro de bicos que decidiu fazer para comprar os lanches do café para levá-la a uma Marcha Evangélica na capital, pra ver se essa pobreza acaba. Ele me disse chorando que esperava um milagre.
Aqueles minutos que antecederam o meu chamado na fila da lotérica foram os mais longos. Devia eu dizer a ele a verdade (se é que ela existe). Estaria eu praticando o bem, se invocasse Deus para resolver o problema? Não poderia ir até a casa daquele homem e pegar a vassoura ungida e devolver â igreja num ritual bem mais científico e pouco racional? Não poderia chacoalhar aquela mulher por dois minutos na esperança de um choque, uma crise, um surto?
Olhei para ele como quem olha pra um menino simples, órfão de pai e mãe, com o coração agigantado de amor e disse:
- O senhor acredita em Deus? Ele disse que sim e continuei:
- O senhor acredita que Ele seria capaz de pedí-lo que abrisse mão do seu café da manhã, imprescindível para sua subsistência e te deixasse à míngua? Ele disse que não .
- Então não precisa passar tudo que ganha para a igreja, só passe aquilo que não fará do seu sustento uma miséria.
- Mas ela vai achar que estou enganando ela?
- Desculpe, mas ela já está sendo enganada. No céu não há construção com tijolos, o ambiente é livre. Só tem gramas, flores, e paz.
Peguei na sua mão ao me despedir e disse: Deus está com você. Dei as costas e chorei copiosamente. Eu não sabia onde mais doía... Mas sabia que adoecia.
Era um senhor de aproximadamente 65 anos, ressabiado, que iniciou o assunto perguntando sobre minha idade e logo afirmando que parecia ter 27, como a filha mais jovem. Olhei sorrindo e perguntei:- Por que quer saber? Ele, naquele mundo exclusivamente dele continuou dizendo que era curiosidade e que não estava bem naquele dia, afinal sua esposa tinha problemas. Pra engatar uma prosa, primeiro perguntei se ela estava doente, acamada. Ele disse com olhar pesado, triste: o problema dela é espiritual. Sem esperar qualquer resposta continuou dizendo que ele era umbandista e que durante 32 anos a vida dele era maravilhosa, pois fazia cada oferenda linda, a ponto de as pessoas tirarem fotografias nas encruzilhadas. Disse ainda, que o cavalo branco ficou do lado dele, tocando-lhe o ombro, numa dessas. Emendou dizendo das aparições na cachoeira e tantos outros casos (para os quais não esboçava nenhum sentimento de afirmação ou negação, afinal desconhecia os rituais). Até que ele disse que sua esposa passara a frequentar uma igreja de denominação cristã evangélica e que lá, deixava todo o dinheiro da aposentadoria dele, que era doente, desamparado. Não bastasse esse relato, afirmou que ela já havia comprado vassoura ungida, óleo da riqueza, água da fartura, moeda da prosperidade e que, no fim, estava pagando mensalmente um tijolo para chegar ao céu. E como não sabia que hora Deus ia chamar, os pastores sugeriam a aquisição de quantos mais fossem possível. Ele, desamparado pelos familiares que moram longe, vive sozinho com a esposa, por quem nutre muito carinho e respeito, além de confiança. E disse que hoje ao sair de casa, antes de irem pagar o boleto do plano de saúde (único que “Deus” não restringe por ser de saúde do corpo), disse a ele que a abundância e a prosperidade da casa, perdida há anos, se deve às sujeiras praticadas por ele na, que ela define “religião satânica”. Ele crendo fielmente nisso, está juntando um dinheiro de bicos que decidiu fazer para comprar os lanches do café para levá-la a uma Marcha Evangélica na capital, pra ver se essa pobreza acaba. Ele me disse chorando que esperava um milagre.
Aqueles minutos que antecederam o meu chamado na fila da lotérica foram os mais longos. Devia eu dizer a ele a verdade (se é que ela existe). Estaria eu praticando o bem, se invocasse Deus para resolver o problema? Não poderia ir até a casa daquele homem e pegar a vassoura ungida e devolver â igreja num ritual bem mais científico e pouco racional? Não poderia chacoalhar aquela mulher por dois minutos na esperança de um choque, uma crise, um surto?
Olhei para ele como quem olha pra um menino simples, órfão de pai e mãe, com o coração agigantado de amor e disse:
- O senhor acredita em Deus? Ele disse que sim e continuei:
- O senhor acredita que Ele seria capaz de pedí-lo que abrisse mão do seu café da manhã, imprescindível para sua subsistência e te deixasse à míngua? Ele disse que não .
- Então não precisa passar tudo que ganha para a igreja, só passe aquilo que não fará do seu sustento uma miséria.
- Mas ela vai achar que estou enganando ela?
- Desculpe, mas ela já está sendo enganada. No céu não há construção com tijolos, o ambiente é livre. Só tem gramas, flores, e paz.
Peguei na sua mão ao me despedir e disse: Deus está com você. Dei as costas e chorei copiosamente. Eu não sabia onde mais doía... Mas sabia que adoecia.