Os apaixonados
Sei que certos amigos riem das coisas a que chamo paixões. E, claro, rio-me muito também dos meus amigos por causa das coisas que defendem com tanta veemência. Rir, porém, e com muito gosto, é a máxima expressão de minha crítica, quem comigo convive atesta essa verdade. Aprendi que rir sem escárnio, com a liberdade da genuína alegria, não agride as pessoas nem afasta os amigos verdadeiros. Paixão. Esse é o tema do assunto que rola na roda. Puxado por mim
Alguns momentos mágicos me acontecem em torno de algo considerado por muitos uma paixão: a música. Pra que tais momentos aconteçam são necessárias situações tão diversas e tão completamente fora de nosso controle que se tornam raros e fugazes. É exatamente isso o que os torna tão especiais. Desde cedo percebi tal esporadicidade e, claro, a aceitei com tal sensatez que me permitisse não sofrer por algo tão intangível. Digo com frequência que sou apaixonado por música, porque ela me move, me arranca do lugar, me leva a ambientes fora do meu habitat. Contudo nunca me levou a cometer um ato impensado, que me trouxesse arrependimento. Acho portanto que minhas paixões são frouxas embora pense que são as grandes paixões que levam as pessoas a grandes feitos.
Faço, com certa dose de paixão, a defesa da música. Ouvir música faz bem e alegra. A música acompanha-nos em momentos felizes e nos tristes. Para mim, que tenho a felicidade de trabalhar de chinelos e bermuda, ela está presente também durante o expediente. Tem a propriedade de melhorar o humor e até a capacidade de concentração. Precariamente documentado por algo que li recentemente, coloco que ouvir nossas canções favoritas faz com que o cérebro produza a “dopamina”, o neurotransmissor que tem a função é transmitir informações entre nossas células nervosas, os neurônios, e é conhecida por influenciar comandos cerebrais ligados à memória e também à sensação de prazer.
No romance “A besta humana”, de Émile Zola, ele, ou seu tradutor, usa com certa recorrência o termo apaixonar, dando-lhe uma conotação um tanto incomum, algo como inflamar ou reagir com sentimento a alguma circunstância. Não que se vá usar tal recurso de linguagem no dia a dia, mas acho-o interessante de qualquer modo. Leva-me a refletir que as pessoas são de forma geral passionais, em maior ou menor grau, o que as leva a ter reações as mais diferentes diante das ocorrências.
Outro da roda evoca Platão, alega que a paixão é o desejo de vislumbrar algo que não consiste na realidade essencial, ou seja, contentar-se em viver com um ideal imaginário. Outro ainda evoca Hamlet: “Mostre-me um homem sem paixão e eu o seguirei, porque é senhor de si.”
E a palavra passa a ser solicitada, a discussão toma corpo. Cada qual defende com paixão o seu ponto de vista. Estranho! Será que todos deixaram em casa o celular? Ninguém interrompeu ainda a conversa pra atender uma chamada ou mostrar um vídeo.
Percebo que está acontecendo um daqueles momentos mágicos.