Escolha Tri Colorida
Tenho o maior interesse em conhecer histórias de vidas do tipo: encontros imponderáveis, que viraram uniões conjugais; superações pela vontade; fatos que geram crises, mas depois se transformam em oportunidades; primeiras experiências, inclusive, surpreendam-se, da escolha do primeiro time...
Ando muito atarefado, para cumprir pedido do primogênito: montar álbum dos descendentes de seus bisavôs.
Antes de pedir aos familiares fotos que, certamente, completarão o álbum, comecei a escolha garimpando em minhas próprias caixas e álbuns de fotos.
Enquanto escolho as fotos, sinto-me dentro daquela máquina do tempo, ficção como meio de transporte físico, mas, mais do que real em nossos voos com as assas do pensamento. Revivo momentos intensos e inesquecíveis.
Encontrei foto de 1946. Não completara primeira infância. Vivíamos muito mal no Rio, depois da transferência de meu pai de chácara a beira de praia de Mosqueiro, ilha paradisíaca paraense, para quarto sublocado de casa térrea, em Quintino Bocaiuva, subúrbio carioca.
Minha mãe tinha amigos "oriundi". Íamos sempre aos domingos filar a macarronada de domingo. Nesses domingos, depois do almoço, a conversa corria solta, pois os anfitriões levavam a sério o dito: “quando se come não se fala”. Mas, a programação continuava. Encerrava-se com bela e farta mesa: café, leite, chocolate, pão francês, pão doce, queijo, roscas com cobertura de açúcar e bolo, ou panettone.
Depois do lanche, o anfitrião nos levava de carro até a Central do Brasil, para pegarmos o trem e voltarmos para Quintino.
Num desses domingos, Toninho, primogênito carioca, do casal de imigrantes italianos, uns dezesseis anos, lembrou ao pai que naquele domingo tinham compromisso com o futebol e que, papai e eu os acompanhassem.
Naquele tempo, nunca tinha ido a um campo de futebol, não conhecia os times e muito menos tinha conhecimento de que os imigrantes italianos torciam pelo Fluminense no Rio e que toda a família de meu pai tinha como tradição torcer pelo Flamengo. E, uma vez Flamengo, sempre Flamengo.
Vasco e Fluminense se enfrentavam no campo do Gigante da Colina, em São Januário. Ademir Menezes, ídolo do Vasco, numa feliz coincidência, ou numa causalidade determinante, jogava pelo Fluminense.
Encerrado o jogo. Vitória do Fluminense, 1x0, gol de Ademir Menezes.
Dirigimos-nos para onde o anfitrião havia estacionado o carro. A ansiedade e a incerteza do imigrante italiano e de seu filho Toninho, na ida, foram substituídas, na volta, por alegria tão grande e contagiante, quanto aquela, sempre presente nesses encontros dominicais.
Quando voltávamos, a persuasão do jovem carioca, perguntou a inocência do infante: qual foi o jogador que gostaste mais? De imediato dei a resposta esperada: aquele de queixo grande.
Essa característica física de Ademir Menezes era tão evidente, que ficou conhecido como Ademir Queixada.
Toninho, desafiando a tradição flamenguista da família de meu pai, acrescentou: então tens que torcer pelo Fluminense.
Por um lado nascia a ovelha negra da família flamenguista de meu pai, por outro, com a escolha tri colorida, começava o aprendizado de bater de coração, ora no verde da esperança, ora no vermelho do amor, ora no branco da paz.
Endereços relacionados ao Tricolor das Laranjeiras:
à Trova Tricolor
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http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/82597
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/1938463
ao FLUSÃO CENTENÁRIO
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/ver em e-livros
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http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/33227
http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/82065
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/1399328