Agora, só na memória. (A ponte)
Chegamos com o carro até a beira da água; que era o final da estrada. Já se via uns dois quilômetros de água da represa Serra Azul se formando. Impressionante! Como aquele corguinho¨ havia se transformado naquele mar. Daí meu pai quebra aquele silêncio: Olha! A ponte! Deixaram a ponte! Era como se fosse um símbolo de resistência , como se não conseguissem acabar com tudo. Ali era o mundo do meu pai. De um lado a casa dos meus tios e do outro a do meu avô. Aquela era a ponte que separava os dois municípios; Igarapé e Mateus Leme. Meu pai sentia alguma coisa se acabando... As casas dos seus irmãos ficariam umas duas vezes mais distantes. Todos seus amigos que moravam naquela região já tinham se mudado. E pra longe. Pra não sentirem a tristeza da perda do seu lugar. Meu pai deu uma ajeitada na lágrima pra não cair e voltou no mundo real: - Filho, você fica aqui olhando o carro que nós (ele e meu irmão mais velho) vamos procurar os animais.
Aquela região tinha se transformado num imenso campo de pastagem. Enquanto a água não inundasse e a empresa de água cercasse tudo.
De repente estava eu ali, sozinho, naquela imensidão, só ouvindo o barulhinho das pequenas ondas. Comecei a andar, curioso, cheguei a um espaço sem plantação. Era o piso de uma grande casa com os azulejos diferentes em cada cômodo. Pensei como poderia ter sido a vida de quem morou ali. E senti naquele silêncio, solidão. Parecia um cemitério de pessoas vivas.
Hoje noto que essas expulsões involuntárias dos seres humanos dos seus locais de origem e o desaparecimento do espaço em que viviam parece ser uma dor muito maior do que parece...