SEMICIRCULOS
ESPIANDO OS MEUS PRÓPRIOS PASSOS no chão de seixos espectro sem rumo na direção da partida os medos acumulados me fazem adoecer há perdas no transcurso voltas e reviravoltas um desgosto profundo o eixo gravitacional círculos e semicírculos vícios de ontem a deslembrança a resignação e a esperança se esvaindo e a vontade de que tudo seja diferente o egocentrismo a vaidade a razão à flor da pele um lapso temporal a vida que pulsa na primavera o pulso que pulsa em todos as veias um abraço de um pequeno milagre a frouxidão das lágrimas mais dor as perguntas ferem por que simplesmente não resistir um tardio instante de tolerância isolamento que frustra todavia que revigora não reprime liberta a comoção de si é a retaliação alheia é o descabido não se pode fugir do inimigo a lição é a verdade latente quem dera ser “escudo e fortaleza” poder voar ao invés de ter que andar e na plenitude ser comum surtar ao menor esforço do escafandro e maravilhar-me e não olhar para trás o horizonte é a igualdade no limite territorial do nunca e a fronteira do céu e da terra fica bem atrás de minha casa no limiar da perfeição ossos peles escamas não são mais escoras não mais partes não mais aflições e ficam à margem e cada vez mais longe de mim numa demonstração de maturação insisto no desejo de querer mudar mas persisto na dúvida de não saber escolher o revés ainda assombra e a noite chega para completar o mundo cego o escuro tapa a lua num eclipse sazonal o sentimento é lúgubre o entendimento é racional a perversidade é carnal o refluxo é um mal passageiro à deriva da condição existencial controle (des) necessário para não beirar à demência no salto da morte uma platéia interessada ao derredor da vida há inspiração a vida dentro da vida e não se nota a presença de Deus somos vis medonhos mesquinhos e alguns se acham intermináveis o que criamos meio que vivo colecionando coisas como se o hábito ajudasse a contar as histórias e servisse para salvar o mundo na tentativa de ser diferente não suportamos quaisquer desonra sequer perdoamos ritualistas mendigamos o menor dos quereres na intenção de retornar ao útero e isso é estranho pois é recorrente tratamos todos com desconfiança e o que poderia ser amor é apenas retraço de um desenho sem graça terminamos mais ou menos como começamos círculos e semicírculos vícios de ontem a deslembrança a resignação e a esperança se esvaindo...