que Brasil queremos?

(texto originalmente publicado em 2016)

Nestes dias de uma propalada crise e de grave questionamento sobre os rumos do país, podemos contrapor dois modelos: o de um país de cooperação e solidariedade, com a preocupação da justiça, inclusão social e soberania de um lado, ou, por outro lado, um país de irrestritas oportunidades, de livre competição, mas com inevitáveis efeitos na concentração de riquezas, na pobreza alastrada e na subordinação a interesses internacionais.

Se fosse para utilizar rótulos, seria o país socialista de um lado versus o país neoliberal do outro. Embora esta dicotomia traga implícita a artificialidade das tentativas de classificação de situações por demais complexas, ela é muito esclarecedora sobre o embate de ideologias e modelos de país que estão em discussão neste momento.

Para refletir sobre os modelos de país, vamos de início desmascarar o problema: não se trata de identificar qual partido, qual ideologia ou quais homens públicos são os responsáveis pela corrupção que corrói a moral e as finanças do país. Infelizmente, a corrupção é um mal histórico, sistemicamente enraizado na sociedade brasileira. E o necessário enfrentamento da corrupção, se tem intenção de ter sucesso, não pode iniciar com a farsa de querer atribuí-la a somente um dos lados do embate político-ideológico em curso. O verdadeiro embate dá-se noutra esfera, que parece alcançar as profundezas da natureza humana: somos mais inclinados a uma sociedade de maior cooperação e solidariedade, para tanto aceitando limites de ganho pessoal, ou somos mais adeptos de uma sociedade de oportunidades ilimitadas, mas com as inevitáveis consequências da exacerbada competitividade e seus impactos ambientais e injustiça social?

Apesar do inquestionável massacre midiático, a opção pelo país mais solidário, inclusivo e soberano ganhou as eleições de 2014, graças aos votos dos estados mais pobres e de parcela considerável da população dos estados mais ricos, que entende que a solução dos crescentes conflitos e crises sociais e ambientais que vivemos depende de um arranjo social mais justo e inclusivo.

Mas os adeptos do modelo de livre oportunidade e competitividade não se conformam com a derrota nas urnas, e, como é natural para sua índole competitiva, não aceitam esperar pelas próximas eleições para tentar viabilizar nas urnas seu modelo de país. O que se observa hoje no Brasil é uma extraordinária sabotagem da governabilidade, da economia e da informação, com manipulação de boa parte da opinião pública.

Nosso planeta encontra-se em profunda crise. Guerras, atrozes atos terroristas, correntes extremistas e segregacionistas só fazem crescer. Os esforços para frear a degradação ambiental e o aprofundamento das desigualdades sociais estão perdendo a batalha para a ambição irresponsável. O país autor do maior atentado terrorista da História, os genocídios de Hiroshima e Nagasaki, ainda é considerado o guardião dos direitos humanos e da liberdade no planeta! Enquanto comete os mais tenebrosos atos em prol da manutenção da sua hegemonia mundial conquistada na Segunda Guerra Mundial (ver o livro “Confissões de um assassino econômico”, de John Perkins, Cultrix, 2005).

Diante deste preocupante quadro global, o Brasil é um país de imensas riquezas naturais e de diversidade racial e cultural que podem ser um diferencial sem igual para que este seja o país da solidariedade e da qualidade de vida. Mas para isso é necessário que os cidadãos sejam mais cooperativos e menos competitivos. Isto significaria estar sendo fiéis aos verdadeiros ideais cristãos, islâmicos, budistas, judeus, enfim todas as religiões que anseiam pelo ser humano emancipado. Significaria vencermos nossos instintos de sobrevivência herdados de animais acuados que já fomos e assumirmos responsabilidade de discernimento, cooperação e engajamento de seres verdadeiramente civilizados em que estamos nos tornando.

Publicado no blog http://perrengasprincesinas.blogspot.com/2016