fracaços e panelaços

(texto publicado em 2016)

A grande mídia nos estonteia de tanto martelar: vivemos no Brasil uma crise sem precedente, um momento de indescritível fracasso. E não se cansa de atribuir tal fracasso a protagonistas cuidadosamente selecionados: os governos de Dilma e Lula (ou seja, do PT), a Petrobrás e a corrupção, que na visão dos jornalões, ocorre somente no PT e na aparelhada Petrobrás e suas parceiras.

O fracasso do país se mede pelo pibinho e o dragão da inflação, pelas incontáveis denúncias de corrupção, pela falência de serviços públicos, pela ameaça de desemprego, pela derrocada do grau de investimento do país segundo agências internacionais. Tudo atribuído aos vilões que estão a fazer perder o país.

Mas esta é a explicação para os problemas do país? A recessão não acontece só no Brasil, embora mundialmente afete principalmente os países que, como nós, são fornecedores de commodities para as grandes nações, elas também lutando com tempos difíceis e, por isso, reduzindo drasticamente suas importações. E se no Brasil a crise é aguda, talvez isso se deva mais a causas internas do que externas. Estas causas internas talvez não sejam os vilões propalados pelos jornalões. Todo economista sabe que um fator essencial na economia é a expectativa, que estimula investir para aumentar a produção. No Brasil, a grande mídia martela insistentemente o desestímulo, apregoando uma crise maior que a realidade. Isto além de razões ideológicas, quer dizer, sabotadoras, de muitos empreendedores que recusam investir durante um governo que se declara abertamente a favor da redução dos abismos sociais, econômicos, culturais. E, se não há investimento para aumentar a produção, cai o PIB, aumenta a inflação, diminuem os empregos...

E a Petrobrás? A Petrobrás é fruto de lutas nacionalistas das décadas de 1940 e 1950, e sua criação nos moldes de empresa do monopólio do petróleo no país foi uma vitória de lutas populares e de homens públicos com verdadeiro espírito patriótico. E a Petrobrás cresceu até descobrir as grandes jazidas do pré-sal, que transformaram o Brasil de importador em virtual exportador da principal fonte de energia do planeta, que é hegemonicamente controlada por um cartel que não mede consequências para manter seu controle. Sejam fraudes, assassinatos, guerras, golpes de estado ou o que for. A Petrobrás é um gigante, mas está ameaçada pelo incessante bombardeio a que está submetida. A ponto de ver os legisladores apoiarem novas leis que retiram o pouco que ainda resta do histórico patrimônio representado pela empresa e pelas lutas que lhe deram origem.

Mas e a corrupção denunciada na Petrobrás e em tantas empresas parceiras, sempre envolvendo políticos, aparentemente sempre com a predominância daqueles pertencentes à base do governo atual? Ora, brasileiros, querer dizer que a corrupção começou no país nos últimos quinze anos é uma farsa cujas consequências poderão ser funestas, a começar por inviabilizar qualquer esforço verdadeiro de acabar com ela. Não é possível acabar com a corrupção começando com a farsa de querer imputá-la a somente um segmento político ou empresarial do país. Infelizmente, a corrupção é um mal culturalmente enraizado não só nas instituições, mas no povo.

E a derrocada do grau de investimento do país? Bem, primeiro é preciso lembrar que foi nos governos recentes, os vilões dos jornalões, que o país ascendeu ao grau de investimento. Antes, éramos tidos como de risco. Mas vale refletir um pouco sobre a credibilidade das agências responsáveis por tais classificações. A quem elas servem? Qual foi o papel delas durante a crise financeira de 2008 e 2009, que custou trilhões de dólares, pagos inclusive por nós, para salvar instituições financeiras fraudulentas nos EUA e pelo mundo afora? Aliás, crise da qual ainda sentimos as consequências.

Bem, e o panelaço? O panelaço tem duas possibilidades: ou nos revela que os batedores de panelas são contra a redução dos abismos sociais, são contra a construção de um país com mais equidade, ou nos revela que a grande mídia e seus jornalões têm um elogiável poder de convencimento, capaz de fazer o cidadão equivocar-se totalmente com relação a quem são os vilões que se preocupam com interesses próprios e não com os interesses do país.

Publicado no blog https://perrengasprincesinas.blogspot.com