Jackson do Pandeiro, o quilombola
Há dias atrás, indo rever as itacoatiaras, visitei a comunidade quilombola de Pedra D’ água, nas vizinhanças de Ingá. Que belo pé de serra, verde, florido e com água corrente, cantando entre as pedras e, aqui e acolá, caindo como cascata. Por lá, observei os traços característicos que definem o que seja uma comunidade étnica, bem diferente da sociedade, aqui da cidade. Em tal paraíso, residem os valores sobreviventes de um povo resistente à perseguição que tem como quartel de ataque a metrópole com sua midia invasiva. Seus antepassados chegaram à Paraíba, aportando na então Capitania de Pernambuco, provenientes geralmente da Angola, quando os malvados e gananciosos “colonizadores”, aqui precisando de mão de obra à cultura do açúcar, desde as primeiras décadas do século XVI (1585 -1654), dedicaram-se ao tráfico, ao comércio e à escravidão de cativos africanos.
Reunidos no salão comunitário, disse-lhes que a cor da pele não significou escravidão, o que então aconteceu foi simplesmente uma mera associação da cor dos prisioneiros àquela injusta circunstância no mercado de trabalho, consequência tão somente de ordem econômica. Como exemplo, citei a cor da pele dos escravos na Antiga Grécia, dos na Roma Antiga, quando os escravos tinham a mesma cor da pele dos seus “senhores” que os comprava como prisioneiros de guerra das hostes vencidas: eram brancos escravizando brancos... Como se constata, em todas essas circunstâncias, a causa foi e será sempre o fator econômico.
Na Paraíba, há cerca de 39 comunidades semelhantes, umas maiores, outras menores, mas sempre congregadas por ricos hábitos culturais que serão acompanhados e apoiados pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura. Assim também serão os da Serra do Talhado, em Santa Luzia, onde o amigo Linduarte Noronha rodou o curta metragem “Aruanda”, cujo enredo, sobre as causas sociais, deu início ao Cinema Novo no Brasil. Aos paraibanos e aos convidados, o Governador João Azevedo decretou ser o ano de 2019 para festejarmos o Centenário de Jackson do Pandeiro, gênio musical brasileiro, filho de Alagoa Grande, que deve ter tomado suas origens na comunidade quilombola de “Caiana dos Crioulos”, nos domínios da sua terra natal.
Mesmo ao marcarmos cem anos para ele, o quilombola Jackson do Pandeiro é um músico compositor da nossa contemporaneidade, cuja fama tem tido grande aumento nas últimas décadas. Os adeptos do seu estilo, ao considerá-lo o “rei do ritmo”, não esgotam sua originalidade e fazem também aumentar a brasilidade, fundada na mestiçagem e bem representada na busca permanente da nossa identidade cultural, que se define, cada vez mais, na música negra ou afro-brasileira, fonte de maior autenticidade dos nossos valores culturais. Que os digam as manifestações de sentimento das comunidades quilombolas, em intensidade, o sobreposto culturalmente ao da nossa nacionalidade musical. É com esse propósito que a Secretaria de Estado da Cultura, cumprindo e em consonância com o Plano de Governo do Estado, mesmo todos conscientes das dificuldades junto a esses grupos comunitários, dedicar-se-á a um trabalho de resgate dos valores culturais das minorias indígenas, ciganas e quilombolas. Nos quilombos, como certamente Jackson do Pandeiro fez, essa gente de lá, graças a Deus, faz, canta e dança muito bem o coco de roda...