A ultima morte de Rafael Henzel
Terça-feira, um dia comum, como todos os outros que se faz a mesma coisa. O sobrevivente de uma tragédia onde morreram 79 pessoas, Rafael Henzel, vai para mais uma hora de diversão ao lado dos amigos, jogar a “pelada” depois fazer a resenha dos lances polêmicos, se gabar pelas jogadas que fez e claro, responder as perguntas sobre a sua ressurreição. Henzel não estava preocupado com a morte, supunha que ela perambulava com sua caderneta de cobranças por outras cercanias, bem longe de onde ele estava, sua preocupação de momento era divulgar seu livro, “Viva como se estivesse de partida.” De repente um sinal, eis o mistério que todos levam consigo, o sinal de que a tormenta se apróxima, o golpe derradeiro que será dado dali a poucos minutos, quiçá, meros segundos. Uma dor irradiando e algumas palavras desimportantes, para quem não acreditava que já seria a sua hora. Desimportantes, porque naquele instante em que a vista anuviara seu olho de dentro, enxergara o interior do avião, todas aquelas pessoas fazendo festa, fazendo planos e contando segredos, gente se emocionando ao dizer das dificuldades que passara na vida, agradecendo em nome de mães, pais, filhos, esposas e até os bichinhos de estimação. Rafael Henz era uma daquelas pessoas que contara suas coisas e sonhara com o mar de gente empurrando seu time, o peito também lhe apertava, sua pele sensível se arrepiava como as outras, mas depois que o avião caiu e Henzel acordara, ainda no mundo dos vivos, dissera para si mesmo que era diferente, talvez fosse como a lenda dos gatos, possuindo as sete vidas, ou quem sabe mais que isso, uma vez que não é raro ver os bichanos espatifados nas ruas por atropelamentos. Henzel tinha plena convicção que o seu adormecer naquela agonia, seria mero contratempo, até que fossem feitos os primeiros socorros, daí ele abriria os olhos dentro de um quarto iluminado, vendo a sua frente todas aquelas pessoas aprisionadas no seu coração, principalmente o filho que abraçaria novamente com a mesma ânsia de reviver. Diria ao primeiro repórter que ele pensara estar dentro de um dos filmes “Premonição” onde o sujeito escapa da morte, mas continua na lista dela, tranqüila como és, ela deixa a poeira baixar, os ânimos se acalmarem e depois vai lá cobrar a divida.
“Horas depois, acordei, ainda no local do acidente, e vi os dois colegas que estavam ao meu lado sem vida [Renan Agnolin, 27, e Djalma Araújo Neto, 35]. Eu achei em príncipio que era um sonho e que iria acordar, porque estava dormindo na aeronave. Infelizmente, não foi isso que aconteceu.” (Rafael Henzel)
“O que posso dizer é que lá ocorreu um milagre. Setenta e uma pessoas perderam a vida, apenas seis pessoas sobreviveram. No meu caso posso dizer que houve um milagre, já que o meu banco ficou preso entre duas árvores, caso contrário eu seria lançado mais à frente e sabe-se lá o que poderia acontecer.” (Rafael Henzel)
Henzel narraria o jogo entre Chapecoense X Criciuma pela Copa do Brasil. Mas como dissera Bussunda, “A vida nos tira dela em nossos melhores momentos” Rafael Henzel Valmorbida se calou para sempre, com seu livro “Viva como se estivesse de Partida” passando a vagar sozinho a dizer coisas que ele estava polindo para o seu momento especial.