A van partida
A van parte. Do campus-centro do sertão mineiro a mais ao norte rota franciscana. À espera estão alunos que vão chegando de partes tantas. Na partida os professores que se alocam nos bancos com suas mantas. Suas pastas-mochilas no colo ou no assoalho. Há os que levam outros aparelhos profissionais e quebra-galhos. Todos a bordo. Comando do motor. Sinal de alerta de velocidade. A marcha engata a estrada.
É assim todos os dias. Cada qual com sua tripulação. Os que labutam desde cedo. Os que se aprontam no instante. Os que trazem risos em alegre animação. Os que cabeça no ombro já o sono atendem. Há os de perene conversação. O silêncio na face e no ouvido o fone-celular rente. Gentileza que gera gentileza. E oferta de guloseimas. Convites de amigos para encontros. Até mágica aparece e a vista solta se torna presa. Quantas experiências vividas trocadas e experimentadas. Nada de paradas numa escrita lida. E vem o sabor do gosto que sacia na ida.
Transpassada a ponte ai que alegria. Das Pedras da Cruz à cidade florescente do Amparo. O rio saúda seus súditos que ao pôr do sol a bênção pedem com as pseudo-objetivas de câmaras-celular. E vão se achegando para o ofício de lecionar. A van para à porta. E a salas os professores se apresentam. Alunos em prontidão para mais uma noite. E enquanto em lares e bares prosas soam distração no Campus Januária o conhecimento se escalona em construção. Altas horas é cumprida a missão. E chega o momento do retorno do corpo. As mentes nunca partem. Sempre lá e em todo canto em que pensamento fazem.
A van parte. O repouso é rígido na poltrona que não inclina. Mas firme o sono que forças exige para o descanso. E assim voltam os professores em outro clima. O calor da ida se transforma em frio-ar. E conversas se acalentam. No íntimo orações de guia o Pai as mãos que no volante assentam.
No ponto de embarque o desembarque. A Universidade num silêncio cortado pelo latido de cães-boas-vindas. Hora de ir para casa reatar neste início-madrugada o sono desperto. O corpo dorido pela posição dos assentos. A cama tão esperada. E neste mesmo dia horas adiante o levantar para nova jornada.
Mas subidamente. Lá em cima bem distante de Deus. Uma ordem é dada. E a vida-professoral num não acredito ameaçada. São tantas as marcas deixadas do educador no corpo e na alma. Prioridades são tantas várias. E se cortem como navalhas. E vêm mais cortes. E se vão diluindo em ralos os suportes. Cada vez mais difícil o bem trabalho. E toda uma estrutura se corta. Lutas e mais lutas se formam. Nunca param. É a união em mãos dos colegas que suporta. E o que deveria ser universo como o nome se estampa. São fragmentos cada vez mais com a partida. Mas eu canto um maior valor que áureo se alevanta. Nesta avalanche resta somente o engenho e a arte. Porque já fizeram da van parte.