Brasil de caminhoneiros

Sobre os dez dias de parada dos caminhoneiros do nosso imenso Brasil:

Fiquei vendo, ouvindo, sentindo e refletindo sobre como é forte-frágil, certa-incerta, boa-ruim... a sociedade humana.

Dez dias de parada que geraram infinitos movimentos de ir e vir, com cenas solidárias e grotescas, tudo tão dual e previsível – do imprevisível ser humano.

Tudo que lia, ouvia, via e sentia me reportaram às cenas do filme de José Saramago “Ensaio sobre a cegueira” (2008) e que ficou muito mais evidente nas imagens das prateleiras vazias do supermercados. No filme, a esposa do médico vai em busca de alimentos para seu marido e o grupo de pessoas atingidas pela cegueira, que ela libertou do cativeiro. Por ser a única que estava enxergando, vendo as prateleiras vazias ela dirigiu-se ao depósito e ali mesmo tratou de saciar sua fome e encher sacolas. Em casa fez um jantar e brindou com o grupo o “estarem ali”, limpos, alimentados e aquecidos. Já não importava mais o caos lá fora?!

Quanto as questões políticas-politiqueiras, fiquei curiosa de saber como estou brasileira até agora. Resolvi pesquisar um pouquinho os caminhos políticos a partir do nascimento dos meus pais 1915 e 1917 (pai e mãe, respectivamente), até o meu nascimento: foram 12 presidentes, sendo 01 Junta Governativa (Almirante e general). Do meu nascimento (1955) até agora foram 20 presidentes, sendo 01 Junta Militar. Nestes períodos tivemos vários fatos históricos, mas ligados aos dez dias de paralisação, encontrei a troca do sistema ferroviário pelo rodoviário, no governo de Juscelino ( 1956 a 1961) e a Crise do Petróleo (1973) na presidência de Médici, quando qualquer manifestação de desacordo com o governo tinha a frase que não queria calar “Brasil, ame-o ou deixe-o”, cabendo salientar que a americanização do chamado Estado Novo já estava bombando. Como meus ancestrais viveram? Em um Brasil de índios, de colônia portuguesa, de colonização europeia, de escravidão e por aí vieram e aqui estou...

Na escola formal aprendi, desde sempre, que meu país é rico em tudo, absolutamente em tudo. Esta no Hino Nacional, na Bandeira, no Brasão, na fartura de alimentos. Na escola da vida aprendi, que só não estamos melhor e não somos realmente um país onde seus habitantes também não são ricos porque está cheio de seres humanos com suas dualidades.

As crises vem, os humanos lutam, alguns sobrevivem e ficam algumas perguntas: será que algum ser humano consegue sair da cegueira branca? Será que deixamos de ser duais, umbilicais?

Somos todos caminhoneiros, desde que não me falte...

Ainda hoje, 26.03.2019, continua tudo e todos tão igual. Tristeza!

Que Deus não permita que eu perca a esperança em um Brasil melhor, em um mundo melhor, em um ser humano mais humano.

Tânia França
Enviado por Tânia França em 26/03/2019
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