Eles e seus amores
1. Hoje, decidi escrever sobre eles e seus amores. Antes de abrir meu Notebook e digitar os primeiros parágrafos, comuniquei minha decisão à velha e querida amiga Maria Inês, cronista como eu, e uma implacável crítica dos meus simplórios textos.
2. Fez-me ela uma pergunta que, não nego, eu esperava, conhecendo como conheço, a "sagacidade" de minha estimada Inês, ao ser inquirida ou questionada sobre qualquer assunto. Disparou: "Dos amores deles? Só dos deles?" . Claro que entendi a perfídia...
3. Sem tataranhar, confirmei-lhe que também tivera amores, inolvidáveis, por sinal. Frisando, porém, que eram todos coisas do passado. Alguns inscritos nas páginas doces do meu inexpressivo currículo amoroso, embora, prenhe de bons momentos... Renegá-los, por quê? Negá-los, muito menos. Apagá-los, jamais.
4. E acrescentei: tê-los agora, depois de chegar à encanecida idade, não, não seria aconselhável. Seria ridículo? Não; não acho, deva ser alvo de zombaria o cidadão, de idade, com seus amores, de repente, secretos... Conheço alguns causos!
5. Mas vamos adiante. Podia começar minha ousada crônica falando sobre Ana Maria, Lygia Fernandes, Eugênia Câmara e Amélia de Oliveira, amores, respectivamente, dos poetas Gonçalves Dias (1823-1864), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Castro Alves (1847-1871) e Olavo Bilac (1865- 1918).
6. Podia começar falando sobre Gertrud Bühler, um dos amores de Manuel Bandeira (1886-1968), um poeta namorador. Segundo seus biógrafos, Manu chegou a namorar três mulheres ao mesmo tempo. E os amores do Vinicius? Ao todo, seis. Saudando a todas, abertamente, com belíssimos poemas.
7. Pra não dizer que só falei de poetas, dizem que Machado de Assis escondia seus amores nas mulheres de seus romances.
E Graciliano Ramos (1892-1953)? Em uma das cartas ao seu grande amor, Heloísa Medeiros Ramos, escreveu: "Dou-te a alma inteira, deixa-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te".
8. Reservei, porém, o espaço que me foi dado, hoje, para re-contar (não sou o primeiro a fazê-lo) o amor de um cronista genial por uma das mais belas mulheres que o Brasil conheceu.
Falo de Rubem Braga (1913-1990), o Sabiá da crônica. Um homem feio, mulherengo, mas fulgurante nos seus textos e envolvente na sua prosa falada e escrita. Essas qualidades certamente o ajudaram a conquistar a jovem e deslumbrante Tonia Carrero.
9. Essas qualidades certamente o ajudaram a conquistar a jovem e encantadora Tonia, à época casada com o talentoso desenhista Carlos Thiré. A paixão do cronista por Maricota, (assim ele chamava Tonia) começou em Paris, nos anos 1940. Não podia haver melhor cenário para tão singular romance, ora aceito por Tonia, ora recusado, o que deixava Rubem desesperado.
Até prometer se suicidar, o apaixonado Braga prometeu, quando o amor entre os dois desandava.
10. Braga, segundo seu biógrafo, Marco Antônio de Carvalho, no livro "Rubem Braga-Um cigano fazendeiro do ar", que li nesses últimos dias, morria de paixão não, apenas, pelos olhos e os cabelos de Tonia: adorava, também, seus joelhos. "Tenho muita amizade pelo seu joelho esquerdo", teria dito à amada.
A canção da dupla Silvio Caldas- Orestes Barbosa, "Serenata", gostava Rubem de ouvir Tonia, de voz maviosa, cantar ao seu ouvido. - "Dorme, fecha esse olhar entardecente/ Não me escutes nostálgico a cantar/ Porque eu sei que feliz ou infelizmente/ Não me é dado beijando te acordar" - a primeira estrofe...
11. Recordando o tumultuado romance entre Rubem Braga e Tonia Carrero, digo: bons tempos aqueles em que as paixões rebentavam espontâneas! Aconteciam entre uma briguinha e outra, entre um sim e um não, entre um demorado "xêro" e um beijo roubado: e tudo terminava numa cama entre travesseiros e lençois cheirosos...
1. Hoje, decidi escrever sobre eles e seus amores. Antes de abrir meu Notebook e digitar os primeiros parágrafos, comuniquei minha decisão à velha e querida amiga Maria Inês, cronista como eu, e uma implacável crítica dos meus simplórios textos.
2. Fez-me ela uma pergunta que, não nego, eu esperava, conhecendo como conheço, a "sagacidade" de minha estimada Inês, ao ser inquirida ou questionada sobre qualquer assunto. Disparou: "Dos amores deles? Só dos deles?" . Claro que entendi a perfídia...
3. Sem tataranhar, confirmei-lhe que também tivera amores, inolvidáveis, por sinal. Frisando, porém, que eram todos coisas do passado. Alguns inscritos nas páginas doces do meu inexpressivo currículo amoroso, embora, prenhe de bons momentos... Renegá-los, por quê? Negá-los, muito menos. Apagá-los, jamais.
4. E acrescentei: tê-los agora, depois de chegar à encanecida idade, não, não seria aconselhável. Seria ridículo? Não; não acho, deva ser alvo de zombaria o cidadão, de idade, com seus amores, de repente, secretos... Conheço alguns causos!
5. Mas vamos adiante. Podia começar minha ousada crônica falando sobre Ana Maria, Lygia Fernandes, Eugênia Câmara e Amélia de Oliveira, amores, respectivamente, dos poetas Gonçalves Dias (1823-1864), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Castro Alves (1847-1871) e Olavo Bilac (1865- 1918).
6. Podia começar falando sobre Gertrud Bühler, um dos amores de Manuel Bandeira (1886-1968), um poeta namorador. Segundo seus biógrafos, Manu chegou a namorar três mulheres ao mesmo tempo. E os amores do Vinicius? Ao todo, seis. Saudando a todas, abertamente, com belíssimos poemas.
7. Pra não dizer que só falei de poetas, dizem que Machado de Assis escondia seus amores nas mulheres de seus romances.
E Graciliano Ramos (1892-1953)? Em uma das cartas ao seu grande amor, Heloísa Medeiros Ramos, escreveu: "Dou-te a alma inteira, deixa-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te".
8. Reservei, porém, o espaço que me foi dado, hoje, para re-contar (não sou o primeiro a fazê-lo) o amor de um cronista genial por uma das mais belas mulheres que o Brasil conheceu.
Falo de Rubem Braga (1913-1990), o Sabiá da crônica. Um homem feio, mulherengo, mas fulgurante nos seus textos e envolvente na sua prosa falada e escrita. Essas qualidades certamente o ajudaram a conquistar a jovem e deslumbrante Tonia Carrero.
9. Essas qualidades certamente o ajudaram a conquistar a jovem e encantadora Tonia, à época casada com o talentoso desenhista Carlos Thiré. A paixão do cronista por Maricota, (assim ele chamava Tonia) começou em Paris, nos anos 1940. Não podia haver melhor cenário para tão singular romance, ora aceito por Tonia, ora recusado, o que deixava Rubem desesperado.
Até prometer se suicidar, o apaixonado Braga prometeu, quando o amor entre os dois desandava.
10. Braga, segundo seu biógrafo, Marco Antônio de Carvalho, no livro "Rubem Braga-Um cigano fazendeiro do ar", que li nesses últimos dias, morria de paixão não, apenas, pelos olhos e os cabelos de Tonia: adorava, também, seus joelhos. "Tenho muita amizade pelo seu joelho esquerdo", teria dito à amada.
A canção da dupla Silvio Caldas- Orestes Barbosa, "Serenata", gostava Rubem de ouvir Tonia, de voz maviosa, cantar ao seu ouvido. - "Dorme, fecha esse olhar entardecente/ Não me escutes nostálgico a cantar/ Porque eu sei que feliz ou infelizmente/ Não me é dado beijando te acordar" - a primeira estrofe...
11. Recordando o tumultuado romance entre Rubem Braga e Tonia Carrero, digo: bons tempos aqueles em que as paixões rebentavam espontâneas! Aconteciam entre uma briguinha e outra, entre um sim e um não, entre um demorado "xêro" e um beijo roubado: e tudo terminava numa cama entre travesseiros e lençois cheirosos...