MÚSICA BRASUCA - AFRICANA

1---MAXIXE NO RITMO, ESTÁCIO NA MELODIA - Desde 1870, os IORUBANOS saíram do Recôncavo Baiano e organizaram uma comunidade na Cidade Nova, centro do Rio de Janeiro, e arredores, para o SAMBA e outras formas de música, em festas e arrasta-pés, em especial o MAXIXE. Muitos flautistas se reuniam em casas de família, como as das "tias" baianas - CIATA, a mais festeira, hoje nome de escola municipal junto ao sambódromo -, dedicados ao CHORO ou CHORINHO para ouvir e MAXIXE para dançar, gêneros misturados de ritmos afro-nordestinos e europeus, como a polca, a quadrilha, a valsa etc. Eram festas respeitadas de negros alforriados, frequentadas também por brancos, polícia fazendo "vista grossa" a cultos religiosos, condenados pela Igreja. // Embora um maxixe, "Pelo telefone", de SINHÔ (que viveu até 1930), composição talvez coletiva em 1916 no quintal de tia CIATA na Praça XI, entrou para a história como o "primeiro samba de sucesso". // O SAMBA, mesmo, nasceu no Estácio, ao pé do Morro de São Carlos, onde os BANTOS fluminenses , saídos dos cafezais do Vale do Paraíba, constituíram comunidades diferentes , pobres, a maioria desempregada, buscando moradias nos morros do Castelo, depois na zona norte e subúrbios. SAMBA não era para dançar e sim para ser cantado em volta dos barracos e nos desfiles de carnaval, única época em que a polícia permitia - música mais dolente e menos festeira, notas mais longas, ritmo em geral rudimentar, extraído dos poucos violões e cavaquinhos existentes. Nessa música a origem do SAMBA a que o Estácio deu forma a partir de 1930, sepultando o MAXIXE junto com SINHÔ. Ao longo de décadas, os sambistas professores levaram o ritmo a outros locais: Mangueira, Osvaldo Cruz, Salgueiro, Ramos e Gamboa. "Deixa falar", considerada a primeira escola de samba. Pena que a memória perdeu os primeiros SAMBAS feitos no Estácio e os nomes destes sambistas lendários - somente ISMAEL SILVA, NILTON BASTOS e ALCEBÍADES (BIDE) admirados até nossos dias, por terem sido gravados por FRANCISCO ALVES, o mais popular cantor da época, acompanhado de orquestra. Estácio na melodia, amaxixada no ritmo. ----- Adapt. de JOÃO MÁXIMO - Rio, revista semanal O GLOBO, 20/8/07.

2---TODO PODER NO UMBIGO - Se o primeiro SAMBA gravado, "Pelo telefone", de Ernesto dos Santos, o DONGA (autoria contestada com SINHÔ), em 1917, diz que "o chefe da polícia pelo telefone mandou me avisar, que na Carioca tem uma roleta para se jogar.........", a origem do SAMBA é muito mais antiga... O ritmo descende provavelmente de semba (com 'e'), gênero muito popular em Angola, que na língua quimbundo das nações angolanas quer dizer umbigada - as umbigadas são uma característica do JONGO, resquícios dos antigos rituais de fertilidade dos povos africanos. ----- NOSSO FOLCLORE. No ponto alto da dança, os casais projetavam os quadris para a frente, encostando os umbigos. Os donos de escravos permitiam o jogo nas senzalas por acreditarem que a dança sensual ia aumentar o número de 'crias', escravos nascidos em cativeiro. Hoje, os dançarinos urbanos não encostam os umbigos, movimento apenas insinuado. A umbigada ainda está presente em várias manifestações culturais da fonte de cultura negra, como o TAMBOR DE CRIOULA, coco de umbigada de Pernambuco e Alagoas, e os batuques do Sudeste, como o JONGO (que brotou nas lavouras de café) e o BATUQUE PAULISTA (dançarinos organizados em fileiras em lugar de rodas). O JONGO se tornou uma das maiores fontes de expressão para os escravos, momento em que podiam dançar livremente, tocar tambor e se comunicar, aproveitando cada segundo numa roda de JONGO. O espaço reduzido da senzala, onde existiam de casamento ás celebrações espirituais, recriou e influenciou a cultura afro, a dança presente sempre na religião - na África, os orixás vinham à Terra contando suas estórias (com 'e') através da dança. Na de OXUM, orixá feminino ligado à fecundidade, a mão desliza sobre a barriga, o que remete aos rituais ancestrais de fertização. ----- Adapt. - Rio, revista semanal EXTRA, 2/3/14.

3---PEDRA DO SAL & CULTURA NEGRA - Largo João da Baiana, segunda-feira à noite: roda de SAMBA na Pedra do Sal, um dos marcos históricos da cidade, aos pés do Morro da Conceição, na Gamboa. Ambiente democrático - moradores da região, cariocas animados e turistas dividindo espaço em torno dos degraus encravados na pedra... e no boteco. Muitos ateliês de artistas na região. Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Patrimõnio Cultural desde 1984, a Pedra do Sal, reduto do SAMBA, marca a época em que o sal era descarregado ali, na Prainha, e uma placa ao pé da pedra conta que a escadaria foi esculpida por moradores que recolhiam o sal caído durante o transporte: o historiador NEREU CAVALCANTI desmente a 'fantasia', pois, com o fim do monopólio no século XIX, o armazém guardador acabou e foi possível construir sobre a pedra e talhar a escadaria para acesso às casas.

4---"Metrópole das mandingas - religiosidade negra e inquisição portuguesa no antigo regime" - DANIELA BUENO CALAINHO, Ed. Garamono, 2008 - Sincretismo entre o cristianismo e as tradições africanas no Brasil, no Haiti e também em Portugal: hibridismo e que culturas europeias e africanas se misturaram.

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LEIAM meus trabalhos "Carnaval", "Velhas baianas" e "Hoje é dia de folia!" - I-II-III.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 23/03/2019
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