Tenho um pacto com o mar e quando estou triste vou até ele, sento à sua beira e ali fico por horas olhando na linha do horizonte. Nos pensamentos? Ah ! Nos meus pensamentos cabem tantas coisas! Possíveis,impossíveis e até as inimagináveis. Mas o mar me entende, sei que me entende. Hoje daqui da minha varanda , vi-o revoltado, de cara feia (achocolatado como dizem), daí eu fui até lá para dar apoio , já que com ele sempre vou me refugiar, quando me sinto só e triste. Daí pensei – o mar deve sentir-se muito só a noite, depois que todos usufruem do seu leito, de suas águas mornas e deixam-no para trás,sozinho. Muitas são as noites que acordo e o escuto , faz barulho, mas não é lamento e sim a revolta de quem está só. Bate nas calçadas feitas pelo homem para impedi-lo a seguir seu destino e é ai que eu tenho medo, pois se ele quiser é só levantar os braços e abraçar a todos. Mas não...o gigante se contém,dá tréguas ao povo ,aguarda que a consciencia humana trate-o como a um rei,tal como ele merece. Eu não maltrato o mar, eu gosto dele e procuro respeitá-lo como a uma divindade. Dou-lhe bom dia,boa tarde, faço-lhe reverências e quando vejo alguém sujando a sua margem fico muito brava. As pessoas são ingratas, pegam peixinhos apenas para se divertir, depois deixam na areia para morrer. Vejo que o mar fica revoltado com isso e começa a subir ondas mais altas como a protestar. Meninos, moleques correm à sua beira com garrafas pet cheias de sua água e seus lambaris, brigo com eles que riem e dizem _não dá nada tia! Daí meu instinto faz com que eu detenha os meninos e dê-lhes uma boa explicação sobre o mar os peixes, e como devemos tratá-los. Nas carinhas risonhas que me olham como se Eu fosse a louca, percebo o fio da ignorância que se estampa em cada um..não têm culpa, com certeza! Passo então a conversar assuntos mais amistosos e quando a gente se dá conta já estamos jogando uma velha bola que aparece por ali como se fosse a minha salvação. Dou um pontapé e todos me olham...ahhhh tia, diz um deles...! Mas o instinto masculino fala mais alto e já sai chutando pra se mostrar e isso era tudo o que eu queria pois dessa forma,esqueceram de tirar peixinhos do mar e foram tratar de assuntos que guris devem tratar. Olho para o mar em cumplicidade...a noite já cai e ele está lindo com o Sol se pondo por trás do horizonte. Sinto uma onda mais alta se desfazer na margem, quase aos meus pés...tenho certeza de que é o mar me agradecendo pela interferência junto dos moleques da areia. Saio devagar,subo uma pequena duna, que durante a noite será a companheira dele com certeza, e vou embora deixando-o com seu destino e seguindo com o meu.