Não a chame pelo seu nome
Estava predestinada a se perder na vida, era desatenta, sempre se desencontrando em suas idas e vindas;
Se distraía nas chegadas e saídas, tropeçava em calçadas e vidraças, ria do seu próprio fado, mas diziam que era herança de família e genética não se discutia, ela tinha herdado, a loucura e a falta de pés no chão, e não perdia a mania de sonhar sempre acordada.
Era capaz de transitar na mesma avenida todos os dias e ainda assim sempre errar o caminho. Era a desorientada em pessoa, a prova viva das escolhas aleatórias, e muitas vezes o instinto lhe guiava, tinha sem duvida, uma genuína sorte.
Era canhota quando criança, até a mãe achar estranho e a obrigar a usar a mão direita para escrever, reverteu sua gagueira seguindo as receitas dos vizinhos, aplicando remédios caseiros, fazendo promessas e até pregando sustos, enfim ela teve o sortilégio de sobreviver e curar-se daquilo que lhe veio como uma dificuldade de nascença, ou um defeito de fabrica.
A letra H era seu carma, uma cruz que ela carregava, sem dúvida nenhuma, era a pior, e todos os dias lhe custava a janta, a televisão e outras brincadeiras de criança, por mais que tentasse, não conseguia escrever a letra, era perita em nunca acertar, era como uma batalha entre ela e a letra H.
Sua angústia piorou quando um o dia a mãe lhe contou que seu nome não era pra ser seu. Tinha sido um erro irreparável do seu pai, que saiu pra registrar como Walquiria mas no caminho perdeu o papelzinho e o destino dela, ele modificou;
Virou Claudeth, do dia para a noite, com th, nome de artista de cinema, de alguma Deusa do olimpo, de cantora de ópera, de meretriz das noites Maranhenses, ou talvez uma amante do passado, ninguém nunca soube de qual cartola ele tirou aquele exótico nome com th no final.
Então ela passou a não ser mais ela, fugindo de sua própria essência, ela passou anos renegando sua história, ela foi Maria por um dia, foi Ana, Claudia, Gabriela, Janis Joplin, Joana Dark, Olivia, Penelope charmosa, Monalisa e outros codinomes menos Claudeth.
Um dia alguém lhe disse que Claudeth com th era um nome bonito, nome forte, nome de guerreira, de mulher poderosa, curiosa, fervorosa, amante das coisas boas da vida, e dançarina egipcia;
Um dia alguém lhe disse que Claudeth com th era a flor da primavera, era encantadora, era artista, era a mais instigante e aventureira daquela natureza, era uma sonhadora com alma de poetiza
Foi aí que ela se deixou perdoar pelo nome que não via como seu, então voltou a se encontrar e a assinar com direitos autorais, sacramentada e juramentada, Claudeth com th, quando alguém lhe perguntar.