O QUE É QUE VOCÊ VAI SER, QUANDO CRESCER?

Noutros tempos, era esse o mantra que iniciava as conversas entre adultos e crianças quando se falavam pela primeira vez.

Quando nós éramos apresentados àquelas pessoas respeitáveis, muitas vezes inacessíveis, que se dispunham a nos conceder alguns momentos de atenção dos seus preciosos tempos, essa pergunta era onipresente.

Se a resposta fosse para as profissões que na época eram elitistas como diplomata, advogado, médico, engenheiro, professor, sacerdote, militar, etc. recebíamos elogios e uma breve explanação de tudo aquilo que se esperava de um profissional dessas áreas.

Muitos de nós, por sinceridade ou inexperiência, revelava a verdadeira vocação para carteiro, lixeiro, motorista, estivador, policial e isso era motivo de longas conversas para remover o desejo pelas profissões dos estratos inferiores da sociedade que, apesar das críticas que se fazem hoje, forjaram os cidadãos responsáveis pela criação e manutenção do todo existente. Claro que haviam os que não se enquadravam, mas o comportamento da maioria demonstra que o modelo era adequado, porque existiam os exemplos a serem seguidos pelos jovens.

Depois da revolução dos costumes, a partir dos anos sessenta do século passado, os valores e modelos tradicionais de comportamentos e profissões foram relegados ao ostracismo e o ensino foi desmantelado do básico à pós-academia.

Para infelicidade dos jovens atuais nenhuma alternativa foi colocada em substituição aos velhos padrões e como consequência temos uma sociedade sem ânimo, sem rumo, sem horizontes pela cegueira do analfabetismo que tira do indivíduo toda capacidade de análise e crítica.

Sócrates, o filósofo grego, deixou uma reflexão contundente: “só existe um bem, o saber; só existe um mal, a ignorância”.

Todos nós nascemos ignorantes, mas a partir da primeira vez que abrimos os olhos, começamos a acumular conhecimento que é a base do saber que nos capacitará para as escolhas durante toda a vida.

Com a alfabetização, a possibilidade do domínio de outras línguas além da vernácula (embora essa condição não seja indispensável) e o aprendizado dos diversos ramos das ciências humanas ou exatas, amplia-se a capacidade analítica para que façamos as escolhas que nortearão as nossas condutas como agentes sociais, quer seja no âmbito público ou privado.

Diante do fato de que as ciências não são capazes de fornecer caminhos novos e os exemplos antigos já não são mais aceitos, restam-nos o fundamentalismo religioso alienante, as drogas, o autoflagelo das tatuagens, a futilidade da juventude e beleza eternas, os jogos eletrônicos e a insanidade do terrorismo urbano dos revoltados sem causa.